4º
DOMINGO DO ADVENTO
Ano C: São Lucas
Liturgia
da Palavra: Miquéias 5, 1-4a.; Salmo 80 (79), 2-3;
15-16; Hebreus 10, 5-10; Lucas 1, 39-45.
18-19;
Tema:
Da alegria à exultação
Mensagem:
Exultantes de alegria saibamos, também nós doar-nos totalmente
Àquele que totalmente se nos dá através de seu Filho gerado no
seio da Virgem Maria.
Cena
ou imagem: Maria grávida do Filho do Altíssimo pelo
Espírito Santo corre depressa para ver outra mãe também
milagrosamente engravidada graças à misericórdia de Deus.
Introdução
Se
o domingo passado foi o domingo da alegria, o de hoje poderíamos
chamar de “Domingo da exultação”. Exultação é o cume da
alegria! É uma alegria que faz saltar o homem! É como se os
próprios montes, as florestas, os rios da terra, etc. saltassem e
dançassem junto, numa comoção universal de intenso júbilo. Mas,
qual o motivo de tanta exultação? O rebentar de um fruto: o fruto
do ventre da Virgem Maria, Nosso Senhor Jesus Cristo – aquele fruto
que, por sua vez, se transforma na árvore da vida, o Crucificado .
1.
Deus promete um filho
A
primeira leitura de hoje, tirada do livro do profeta Miqueias, cujo
nome significa “quem é como Deus!”, traz o oráculo acerca do
príncipe messiânico. “Príncipe” se pode interpretar como o
primeiro, o princípio, que rege toda a vida histórica de um povo.
Como o seu contemporâneo Isaías, também Miqueias testemunha a
promessa da vitória sobre a decadência da dinastia davídica e a
corrupção da cidade de Jerusalém. Mas, como?
O olhar profético de Miquéias se centraliza numa mãe prestes a dar
à luz a um filho “vindo de longe, da eternidade” (v. 1),
um novo rei, que nascerá em Belém, a mais humilde das cidades de
Judá, terra natal de Davi, e que apascentará seu povo “pelo poder
do Senhor, pela majestade do Nome do Senhor” (Mq 5,3). Segundo a
profecia, seu reinado será universal e se estenderá até os confins
da terra, e Jerusalém se tornará o centro deste reinado. O novo
filho de Davi, então, será não só um rei de paz, mas ele próprio
será “a paz” (Mq 5, 4).
É
o mesmo sinal apontado pelo profeta Isaías, contemporâneo de
Miqueias: a jovem-virgem está grávida e dará à luz um filho e lhe
porá o nome de Emanuel, nome que significa “Deus conosco” (Is 7,
14). A semente de Davi terá dado, então, um fruto de salvação!
2.
Deus realiza a promessa através de Maria
A
alegria repleta de consolação prometida no Antigo Testamento, bem
como a súplica do salmista “ó Deus, faze-nos voltar, que a tua
face se ilumine e seremos salvos” (Sl 80, 4), começa a se realizar
no Evangelho de hoje, transformando-se em plenitude de gáudio e de
exultação. A face de Deus se ilumina: ele sorri para a humanidade.
Um sorriso - o Espírito Santo - que nos faz voltar a ele; o mesmo
sorriso que irradia, plenifica Maria, Isabel e João Batista.
Maria,
coberta pela sombra mais que luminosa do Espírito Santo, concebeu um
fruto divino. Ela está plena do Espírito Santo, por estar grávida
de Jesus Cristo. E vice-versa: ela está grávida de Jesus Cristo,
por estar plena do Espírito Santo. Iluminada pelo esplendor do
Espírito, grávida do Filho do Pai eterno, o Sol Nascente que nos
veio visitar, ela é bela como a aurora que sobe (aurora
consurgens). Sinal de que o Dia raiou na noite escura da
história humana. Quem acolher a sua visita, também se transformará
em dia: sua escuridão se iluminará, ficará repleto de Deus.
A
vinda apressada de Maria a Isabel adianta o advento de Jesus Cristo a
João Batista. Mais que caridade para com a prima o que apressa Maria
é o desejo de ver, provar e bem co-responder à graça da
maternidade de um filho impossível. A graça, o amor, nunca deixa
para amanhã. Sempre tem pressa.
No
abraço afetuoso de Maria a Isabel, dá-se o encontro dos dois
“impossíveis”. De um lado o Ungido de Deus, gerado não a partir
da carne, mas do alto e por outro o Batista, nascido da esterilidade
e da velhice, o último porta-voz da humanidade que espera pelo
cumprimento das promessas mais antigas de Deus. A voz da saudação
de Maria chega aos ouvidos de Isabel e a criança gestada no útero
da mãe anciã salta de júbilo, pressentindo a presença do Verbo
encarnado escondido no útero da mãe jovem. Os padres da Igreja
dizem que João foi santificado por Cristo ainda no útero de Isabel
quando a voz de Maria lhe comunicou a presença do Cristo.
A
alegria da criança, João, se torna a alegria da mãe, Isabel.
Isabel pronuncia, então, palavras de bendição que, repetidas sem
cessar em cada “Ave Maria” pelo Povo de Deus, se tornaram também
palavras de bendição para toda a humanidade de todos os tempos.
Isabel bendiz a Maria, como antes fizera o Anjo do Senhor. Se o
Mensageiro dissera: “Ave, isto é, alegra-te, cheia de graça, o
Senhor é contigo”, Isabel bendiz a Maria dizendo: “Bendita és
tu entre as mulheres”. Por que? Porque “bendito é o fruto do teu
ventre”. Um fruto que vem de longe, da eternidade e que por isso
Isabel chama de “meu Senhor”.
A
partir de então, a primeira Ave Maria, iniciada pelo Anjo e
completada, agora, por Isabel, nas montanhas da Galileia, começa a
ressoar levando a exultação desse mistério ao coração de todos
os cristãos de todos os tempos e lugares.
No
“Ofício da Paixão”, São Francisco irá também saudar à
Virgem Maria em sua dignidade ímpar: “Santa Virgem Maria, não há
entre as mulheres nenhuma nascida no mundo semelhante a ti, filha e
serva do altíssimo Rei Pai celestial, mãe do santíssimo Nosso
Senhor Jesus Cristo, esposa do Espírito Santo” (Antífona, vv.
1-2).
3. Hoje
e sempre
No
ventre de Maria, o Senhor inicia sua oblação que consumirá no
altar da Cruz. Pois, segundo o autor da Carta aos Hebreus, ao entrar
no mundo, Cristo diz: “Eis-me aqui... Eis que vim para fazer a tua
vontade” (Hb 10, 7c.9b). Mas, o que é a vontade de Deus senão
puro amor, a pura e eterna misericórdia que se consuma na encarnação
e na Cruz?
Hoje,
como ontem e sempre, precisamos de uma conversão para a Alegria do
Evangelho como nos exorta o Papa Francisco, uma Alegria que enche
o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus.
Quantos se deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da
tristeza, do vazio interior, do isolamento. O grande risco do mundo
atual, com sua múltipla e avassaladora oferta de consumo é a
tristeza individualista que brota do coração comodista e mesquinho
da busca desordenada de prazeres superficiais, de consciência
isolada (EG 1 e 2).
Conclusão
Desse
mistério, isto é, desse Deus que vem ao encontro de seu povo com um
sorriso pleno de alegria, gozo e exultação nós “recebemos graça
sobre graça” (Jo 1,16). Eis o motivo pelo qual podemos nos
alegrar; mais ainda, exultar de alegria, como exultaram João e
Isabel. À alegria se junte a gratidão. Que a nobreza da gratidão
nos leve, também a nós, a fazer de nossa vida uma oblação. Que
nos doemos totalmente Àquele que totalmente se nos dá. Enfim, que
sejamos misericordiosos como o Pai é misericordioso (Lema do Ano
da Misericórdia).
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