domingo, 31 de maio de 2015

Santíssima Trindade

Frei Dorvelino Fassini, OFM

Batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo

Introdução

Vitral SS. Trindade (1990),  Igreja S. Lourenço
(Edelschrott, Steiermark, Áustria)
Terminado o Tempo da Páscoa começa o Tempo Comum: o Tempo da Igreja e sua missão de evangelizar e levar à plenitude o Reino de Deus inaugurado por Cristo. Por isso, hoje, primeiro Domingo desse Tempo, a Liturgia nos mergulha para dentro do princípio e da raiz da qual brota toda a nossa Fé, vida e missão: o glorioso e insondável mistério da SS. Trindade.

1 Um fim que é também um novo começo

Por isso, a Liturgia, hoje, apresenta não apenas a última página do Evangelho de Mateus, mas também, o Resumo, o tudo que um evangelizador deve levar e testemunhar em sua vida.

A nova e última teofania se dá no monte indicado por Jesus. Como não ver aqui a memória da última e grande Teofania acontecida no Gólgota, o monte sobre o qual houve a crucificação de Deus e a revelação do quanto Deus foi misericordioso para conosco?! (Ant. da Entrada)

Por isso a primeira coisa que os discípulos fazem é prostrar-se por terra diante do seu Senhor e Mestre! Que contraste com o que fizeram na Sexta-feira santa quando amedrontados fugiram negando seu discipulado! Agora não duvidam mais. São homens de fé! Agora Jesus pode confiar-lhes todo seu projeto, toda a sua autoridade e missão: Anunciar que todos os homens de todos povos devem formar um único e grande Povo de batizados em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo! Batizados, inseridos, mergulhados, enraizados em sua fonte mais profunda e radical: a SS. Trindade.

2 A SS. Trindade mais que um dogma um desafio de vida

A SS. Trindade é, certamente, o mistério, o dogma (“Ensinamento”, “Verdade”) que sempre mais encantou e, ao mesmo tempo, desafiou a mente dos teólogos e estudiosos do Cristianismo. Como pode Deus ser Um só e ao mesmo tempo Três Pessoas? O desafio, porém não está apenas no fato de ser um dogma ou doutrina, mas em fazermos desse mistério, o princípio, a fonte de toda nossa vida. Desafio para, a seu exemplo, embora muitos e diferentes, formarmos, também nós uma única e grande comunhão. Daí a contínua memória que nós cristãos fazemos desse mistério como no Sinal da Cruz, no “Glória ao Pai...”, no “Creio em Deus Pai... creio em Jesus Cristo e creio no Espírito santo...” das grandes Festas, etc.

3 Três Pessoas e uma profunda Comungação

A primeira coisa que Jesus revela acerca desse mistério é que são Três pessoas vivendo em profunda e apaixonante comungação, como se pode ver nas famosas teofanias do Batismo de Jesus e na sua Transfiguração no monte Tabor: um Pai apaixonado pelo seu Filho e um Filho tão apaixonado pelo Pai que por Ele e pelos filhos Dele vai até a morte e morte de Cruz; e, ao mesmo tempo, uma terceira Pessoa, que de tão humilde, a modo de mãe, quase nem aparece, mas que lá está, marcando sua presença, a modo de Amor, fazendo a união e a comungação entre todos os diferentes.

Nosso Deus não é, portanto, um deus monolítico, condenado a viver eternamente na triste solidão de uma vida ensimesmada, fria, egoísta e egocêntrica. Por isso, essas Três Pessoas, Pai e Filho e Espírito Santo, estão sempre “em saída”, uma para a outra em contínua e mútua doação (circumincessão). O que uma quer ou faz a outra também quer ou faz. Depois, também as Três, em conjunto, estão sempre “em saída”, isto é, contínua doação de si mesmas em favor do “mundo externo”, as criaturas. Por isso, se diz que nosso Deus tem o modo de ser da fonte, ou melhor, é a própria Fonte de tudo e de todos.

4 Marcados e batizados com e por esse mistério

Com a cena do Evangelho de hoje Jesus conclui a nova Criação do mundo e do homem, devolvendo-os à sua Paternidade originária, perdida por Adão. Os homens não precisam mais zanzar às cegas, pra cá e pra lá, sem eira e nem beira, sem princípio e sem fim, porque agora podem ver, acolher e viver a partir de dentro de sua verdadeira origem: a grande Comunidade da Trindade santíssima.

Por isso, marcado por esse mistério, o cristão é aquele que é capaz de perceber e testemunhar em cada criatura, desde a mais insignificante, passando pelo homem, até a mais elevada no céu, a presença dessa marca da Trindade santa. Isso equivale dizer que cada criatura tem, carrega em si o modo de ser desse mistério. O modo de ser do Pai que cria e cuida; o modo de ser do Filho que obedece, escuta e acolhe; o modo de ser do Espírito Santo que, através de seu amor aproxima, une, congrega os diferentes.

É só abrir os olhos e veremos esse mistério pulsando em nossa irmã a mãe terra, na irmã água, mas principalmente em nossos irmãos mais próximos, os homens e entre esses os mais pobres e fragilizados. Sim, em cada criatura veremos um “quê” do Pai que cuida, toma providências, um “quê” do Filho que escuta e obedece e um, “quê” do Espírito Santo que aproxima e une.

Não é à toa que Francisco começa e termina muitos de seus Escritos em nome da Trindade santa e frei Egídio traçando o sinal da Cruz sobre as nozes que colhia. Eis também, porque, a tradição cristã, nos educa a, desde crianças, iniciar e terminar nossas refeições, orações e trabalhos Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Se é assim, uma espécie de calafrio, ou melhor um susto misturado de alegria atravessa nossa espinha dorsal: será que, por falarmos e rezarmos tanto “Em nome do Pai e do Filho...”, não estamos caindo fora dessa realidade absolutamente imediata, própria e direta de nossa existência, da existência de todas as criaturas e acontecimentos, a realidade que é o coração e a fonte de tudo e de todos? Uma realidade diante da qual não nos resta senão fazer como os Onze discípulos no Evangelho de hoje, no alto do monte, ajoelhar-nos em profunda adoração exclamando: Meus Senhor e meu Deus. Ou como São Francisco: Meus Deus e Tudo.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Pentecostes: Sopro

Frei Dorvalino Fassini, OFM

PENTECOSTES (Jo 20,19-23)
O ESPÍRITO DO SENHOR ENCHEU O UNIVERSO INTEIRO (Sb 1,7)
Jesus soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’.

Introdução

Antes de um fato, Pentecostes é a consumação e a culminância do mistério da Cruz que, por sua vez, é a consumação, a culminância de uma grande História cujo coração é o desejo, a paixão de Deus de conhecer, viver e comungar nosso humano. Como processo de amor essa História é longa e recheada de tentativas e insinuações chamadas de “visitas”, “descidas”, “vindas”, “sopros”, inspirações ou “pousos” do Espírito de Deus, o Espírito Santo.

1 Sopro Divino

Ao iniciar falando que essa última Vinda acontece em forma de sopro e na tarde do mesmo dia que era o primeiro da semana... o evangelista João tem a clara intenção de dizer que estamos diante de uma nova criação. Nova porque se contrapõe à velha iniciada com Adão. Se lá Deus soprou sobre o barro do qual nasceu o homem, agora o sopro foi sobre o homem que se torna divino.

O simbolismo do sopro, ar ou vento é muito rico! Sempre aponta para o princípio vital do homem. Sem ar o homem não vive. Quando deixa de respirar, morre. O mesmo vale para o homem espiritual: sem o sopro de Deus – o Espírito Santo - o homem é apenas filho do homem, jamais filho de Deus, comuugante da vida divina.

2 Último sopro, última Vinda

Na verdade, a plenitude de todas as vindas ou sopros de Deus deu-se na Cruz. Aquele momento de doação total, absoluta e radical, que Jesus faz de si mesmo, de toda a sua vida ao Pai, em favor dos homens, irrompeu universo afora num grande Sopro ou vento divino.

Jesus é a boca pela qual o sopro definitivo do Pai, em forma de vento impetuoso, de um novo ar que, a partir da Encarnação e da Cruz, começa a invadir tudo, criando um novo Mundo, uma nova Terra e um novo Céu! Até os mortos ressuscitam! Símbolo desse Sopro são os braços abertos de Cristo na Cruz que, em nome do Pai, vão abraçando todos os homens e todas as criaturas. O último suspiro de Cristo é o término, o fim de todas as inspirações ou sopros de Deus. Por isso, esperar ou querer outro Sopro seria esquecer e ofender tudo o que Deus já realizou em definitivo.

3 50 dias depois

O que se celebra nesse dia (O 50º dia da Páscoa) é a manifestação pública e solene desse mistério. Ou melhor, depois de cinquenta dias de padecimento, angústia, meditação, reflexão e oração, os discípulos, orientados pela nova Mãe, Maria, tiveram a mente invadida pelos ares benéficos daquele sopro penetrante e transformador da Cruz. Assim, Cruz, em vez de derrota, vergonha, morte começa a ser compreendida como o princípio, a introdução de um novo hálito, um novo ar ou espírito no mundo, no homem, inaugurando, assim um novo Céu e uma nova Terra. O  DO SEESPÍRITONHOR ENCHEU O UNIVERSO INTEIRO!

Como é grande, generoso o ar que nos rodeia e respiramos! Nunca se cansa de servir a todos, sem distinção, sem medida. E no entanto, ninguém o vê, nota ou percebe. Se assim é o ar da nossa atmosfera, o que dizer do Ar, do Espírito que é Deus.

Por isso, São Paulo exclamava exultante de júbilo: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o ESPÍRITO SANTO habita em vós” (1Cor 316); “Não sabeis que vosso corpo é o templo do ES que habita em vós...” (1Cor, 6,19) e que “nós por nós mesmos nem somos capazes de rezar, de fazer o bem, nem mesmo de dizer “maldito seja Jesus” (1 Cor 12,3)?

Hoje, uma das mais recentes e belas manifestações do Espírito Santo é o Vaticano II- o novo Pentecostes - convocado pelo Papa João XXIII, o Santo da docilidade ao Espírito. Por isso o Papa Francisco, concluindo sua Exortação Apostólica EG, nos convoca para que sejamos evangelizadores com Espírito, pois do contrário seremos evangelizadores sem alma (EG 259 ss).

Conclusão

Sopro, muitas vezes é traduzido por inspiração. Inspiração significa, literalmente, soprar para dentro, respiração boca à boca. Pentecostes é para dizer que Deus soprou para dentro de cada um de nós, boca a boca, o ar, o hálito de sua própria Pessoa. E assim, a partir de então, o meu sopro vital em vez de seguir seu fluxo segue o fluxo, o ritmo da respiração de Deus: filhos queridos do Pai do Céu.

Como, pois, aprender a viver ou melhor a respirar desse Ar em tudo o que fazemos ou vivemos? Como, também, em tudo o que fazemos ou vivemos expirar e transpirar esse Ar? Eis nossa vocação e missão, depois que Cristo subiu ao Céu e nos enviou dom Pai seu Espírito.

Por isso, São Francisco dizia que o verdadeiro Ministro geral da Ordem é o Espírito Santo e que todos os Capítulos gerais deviam ser feitos na Festa de Pentecostes. E que nós devemos estar sempre atentos ao Espírito do Senhor e seu santo modo de operar.

A rosa é sem por que
Floresce por florescer
Não olha para si mesma
Não pergunta se alguém a vê.

Silesius

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Para pensar (2)

Frei Dorvalino Fassini, OFM

Prezados Irmãos, Paz e Bem!

Estávamos visitando a Fraternidade “São Francisco de Assis”, da OFS de Rio Grande. Após o almoço, com o Irmão André e mais três Irmãs, parados na frente da catedral, olhávamos para a praça. Eu estava de hábito. De repente, chamou-nos a atenção uma senhora jovem do outro lado da avenida, distante uns 12 metros, que olhava em nossa direção e sorria e sorria, enquanto cerrava o carro. Pensávamos que estivesse se comunicando com algum conhecido que estava ao nosso redor, pois a rua era bastante movimentada.

Fachada da Capela da VOT de São Francisco de Assis
De repente, em passos céleres, veio ao nosso encontro, abraçou-me sem que eu pudesse esboçar qualquer reação a não ser muita surpresa e perguntar: “Mas o que é isso!? Quem é a senhora, eu não a conheço!” E ela exultante de alegria: “Me desculpe, mas quando eu vejo um hábito de São Francisco com esse sorriso, eu não me contenho!? Eu sou Samanta! Eu amo muito São Francisco!”

Alguém, talvez, pense “mas que pieguice!” Mas, talvez e também, porque não pensar na famosa frase do então Papa Bento XVI: “Toda pessoa tem uma alma um pouco franciscana”.

Não deixemos que roubem o espírito franciscano de nosso Povo!

Perguntas:

- Será verdade que hoje tem menos vocações franciscanas seculares que em tempos passados? Ou, quem sabe, nós é que não estamos sabendo, querendo encontrá-las, despertá-las? Ou, talvez, nós que somos franciscanos por vocação e profissão, não estejamos fazendo bem a nossa parte?

Pense, comente, responda.

terça-feira, 19 de maio de 2015

Para pensar (1)

Frei Dorvalino Fassini, OFM

Detalhe da fachada da
Capela da Venerável Ordem Terceira
de São Francisco de Assis
Sábado último, em companhia da Coordenadora Distrital, Irmã Célia Silva Polnow e do Viceministro Regional, Irmão André L. da Silva, procedemos à Visita fraterno-pastoral, à Fraternidade Franciscana Secular, “São Francico de Assis” de Rio Grande. O que então lá vimos e ouvimos é de admirar, comover e pensar.

Andando de hábito pelas ruas éramos olhados com prazer e alegria por muitos. Alguns até nos cumprimentavam explicitamente. Eu me perguntava o porquê de toda essa deferência, se era completamente estranho. Nunca estivera lá. Não conhecia ninguém.

A resposta veio quando começamos a ouvir das Irmãs da Fraternidade a origem, a história de Rio Grande. Uma história e uma origem que se misturam com a origem e a história da Ordem Franciscana Secular. Uma não existia sem a outra. Tanto é que, a primeira igreja lá erguida, e que é a primeira igreja construída no RS, é a Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco de Assis, dedicada ao mesmo Santo, no fundo da qual, posteriormente, foi construída a catedral de São Pedro.

Infelizmente, a mencionada Capela foi tomada pelo Patrimônio histórico e repartida em duas partes: uma transformada em Museu e a outra cedida para a Fraternidade. Lá está, pois o berço do Franciscanismo Secular no RS, iniciado oficialmente pela fundação daquela Fraternidade em 1748.

Hoje, lá estão apenas nove Irmãs, todas de idade muito avançada, mas que lutam valentemente pela sobrevivência daquela preciosa Fraternidade. Os anos vão passando, novos vocacionados ou membros não aparecem e o peso da responsabilidade para manter a Porciúncula do Franciscanismo Secular do RS aumenta cada vez mais. Acrescente-se a isso a pressão de pessoas e entidades estranhas para que a Fraternidade de fato deixe de existir a fim de tomarem conta de vez e de toda a Capela, erguida pelos primitivos terciários de São Francisco.

E nós, demais Fraternidades Franciscanas Seculares do RS e do nosso Distrito, o que pensamos e o que vamos fazer diante dessa situação enfrentada por aquelas nossas heroicas Irmãs e por essa preciosa herança?

Não deixemos que nos roubem nossas Fraternidades!

Não deixemos que nos roubem nosso ponto de partida!

Pense, fale, escreva, discuta!

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Amar e permanecer no amor

6° DOMINGO DA PÁSCOA (Jo 15,9-17)
10 de Maio: Dia das Mães
Como o Pai me amou assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor

Frei Dorvalino Fassini, OFM

Chegando ao fim de suas aparições como ressuscitado, Jesus começa, aos poucos, a despedir-se dos seus, passando para eles a obra e a missão que o Pai lhe confiara. Por isso, suas palavras assumem um tom solene de testamento e de ordem: Como o Pai me amou, assim também eu vos amei. Permanecei no meu amor.

1 Como o Pai me amou

Na vida cotidiana, mais do que “o que” importa o “como” se faz, principalmente quando se trata de atos de grande importância como o do Evangelho de hoje: amar. Posso amar alguém a modo de criança porque me agrada, mas também, amar como mãe ou pai porque é de minha vocação e, por isso, também haverei de amar quando me é desagradável, custoso, difícil e sacrificante.

Jesus fala que nós devemos amar como o Pai O amou. Por isso, saber como o Pai ama é tudo para um cristão porque além de Ele ser a Perfeição do amor, nós sendo seus filhos não podemos viver e amar senão como Ele vive e ama. Mas, como saber como o Pai ama? Olhando para o modo como Jesus ama, uma vez que os dois são Um. E o modo de amar de Jesus é coisa inaudita, isto é, que nem se consegue dizer! Nunca vista! O amar de Cristo é coisa de outro mundo. Veja-se como Ele era atencioso, dedicado, misericordioso não apenas com seus amigos, os apóstolos, mas também com os doentes, os pobres e pecadores e com o próprio Judas, o traidor e com os que O levaram para a Cruz! Ele sim, de verdade ama de todo o coração, de toda a alma e com todas as forças.

2 Para que minha alegria esteja convosco e seja completa

Eis a Novidade, a Boa Nova que leva o discípulo de Jesus a experimentar uma Alegria nunca experimentada! Como, então, a modo de esposa que encontrou seu bem amado, não explodir de contentamento, felicidade, numa existência plenamente feliz e realizada mesmo em meio a dificuldades e até mesmo da própria morte!? Neste caso, o esposo (JC) se torna não apenas ícone, mas fonte de todo nosso viver. Viver nessa alegria estampada em nossos rostos, atos e atitudes, conosco mesmos e com os outros, eis a nova evangelização proposta pelo Vaticano II e mais explicitamente pelo Papa Francisco.

Por isso, ao recordar e transmitir sua missão aos apóstolos Jesus passa a conferir-lhes também o caráter, a unção de missionários do Pai: a alegria, o vigor dessa Boa Nova: Eu vos disse isso para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja perfeita.

A Alegria da Cruz, do ressuscitado, da nova fonte da vida, capaz de revolucionar todas as relações humanas, a ponto de criar um novo Céu e uma nova Terra! A alegria de ter sido escolhido para ser discípulo do próprio Filho de Deus e não apenas de católico, praticante de uma Religião! A Alegria de um mundo, de uma humanidade que passa a se relacionar não mais à base do mando e demando, da lei ou da opressão, mas da experiência de ser amado, perdoado, reconciliado com o Pai e, através de seu Filho, reconciliado com todos os homens e com as criaturas, podendo amá-los como Deus os ama! Eis a Alegria que vem do escândalo da Cruz!

Jesus é, pois o máximo da experiência do amor, da fé, da bondade de Deus, realizada e semeada na Terra dos homens pela sua encarnação, cruz e ressurreição. Por isso, agora ao retornar para o Pai precisa garantir que essa sua missão (Boa Nova) permaneça para sempre. Eis porque ordena e unge seus discípulos de outrora como os de hoje, nós: Permanecei no meu amor... Isto é o que vos ordeno: que vos ameis uns aos outros”.

3 Permanecei no meu amor

No vigor dessa Novidade (o modo de amar do Pai!) é que seus discípulos deverão permanecer sempre. Permanecer é uma das virtudes mais importantes do homem e do cristão. Sem ela não existe vida, muito menos amor. À semelhança do bom agricultor que, perseverando no cultivo de sua terrinha, anos e anos, vai criando raízes e pegando jeito, alma, forma e corpo de agricultor, também os apóstolos, permanecendo no vigor desse mandamento verão abrir-se a possibilidade de, aos poucos, crescerem numa compreensão viva, bem experimentada do que venha a ser ser discípulo de Jesus amando como o Pai ama. Neste caso, o amor de Deus deixará de ser uma ideia, teoria, para tornar-se corpo do seu corpo, alma de sua alma. Será, enfim, sua nova e sempre renovada existência, nova identidade, seu novo e próprio ser! Será sua nova pessoa, agora identificada com a pessoa de Jesus Cristo, o novo Adão, a Alegria do Pai e dos homens que, por sua vez, é identificação com o Pai que ama tanto os bons como os maus: o puro Amor. Aos poucos, os discípulos de Jesus de ontem e de hoje, vão se tornando cristificados, deificados e Ele, Deus, um do nossos, humanado! Ó “sacrum convívium”! (São Francisco: “Sacrum Commercium”!)

[Permanecer, aqui, não tem nada a ver com conservadorismo muito menos com fundamentalismo, mas tudo com empenho para enraizar-se cada vez mais nesse modo de ser inaugurado por Jesus Cristo pobre e crucificado.]

Nós franciscanos, como não ver aqui o famoso “Fioretti” chamado “Perfeita Alegria” (Cf. Fioretti, cap. 8, ou Atos do Bem-aventurado Francisco e dos seus Companheiros, cap. 7).