terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Espiritualidade, pra quê?

(A propósito da Evangelii Gaudium do Papa Francisco)


Frei Dorvalino Fassini, OFM

foto: Agência Brasil
Essas breves linhas querem apenas registrar a alegria diante de dois fatos. 


Primeiramente, vê-se aumentando cada vez mais o número de manifestações acerca da importância da espiritualidade, do “além” ou “transcendente”. Enfim, o homem está cansando de seus novos ídolos como status, consumo, riquezas, fama, “caridades”, etc. 


O segundo, como outrora Francisco, com a “Perfeita Alegria”, hoje também nosso Papa elege a Alegria do Evangelho como princípio da Vida e de toda Evangelização da Igreja, convocando-nos para que assumamos o início do ser cristão não como uma decisão ética ou uma grande idéia, mas como o  encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (EG, 7)

Isso significa que Espiritualidade, pelo menos para nós, cristãos, não é outra coisa senão Jesus Cristo. Ele, com sua Paixão pelo Pai e pelo homem, vem ao nosso encontro para ser nossa Alegria e nosso caminho de retorno para o Paraíso perdido (Cf. Carta enc. Deus charitas est, 25/12/2005, 1 e EG 7). Nesse sentido, em vez da racional frieza da espiritualidade, até mesmo do cristianismo ou catolicismo, etc. do que mais se precisa é crescer no ardente desejo do Pobre Crucificado (Sta Clara: 1CCL, 12)

Daí a insistente exortação do atual Papa: que façamos de Jesus Cristo e seu Evangelho a Alegria que deve encher de fato nosso coração e nossa vida inteira (EG 1); que sejamos evangelizadores com Espírito, isto é, pessoas que buscam ardentemente ter o encontro pessoal com o amor de Jesus (Evangelii Gaudium, 264).

O perigo de toda espiritualidade (cristianismo, catolicismo, franciscanismo e demais “ismos”) é sua dimensão científica. Acontece que ciência é exercício e merecimento do poder do homem, em especial de sua razão, inimigo número um da alegria e da gratuidade do encontro. Era nesse sentido que Francisco temia os estudos na Ordem (Cf. 2C 195, Atos, 18). Mas, estimava, sim, ao contrário, que os frades, em vez de saberes, espiritualidades, ciências ou doutrinas procurassem sempre ter Jesus consigo (2C 195). De Si mesmo Cristo diz que Ele e o Pai eram UM só (Jô 10,30). De Francisco dizem as Fontes que levava sempre Jesus no coração, Jesus na boca, Jesus nos ouvidos, Jesus nos olhos, Jesus nas mãos, Jesus em todos os outros membros (1C 115).

Hoje, todas as espiritualidades ou doutrinas cristãs estão em crise. Chegaram ao seu cume, esgotaram todas as suas possibilidades. Deram o que podiam e deviam dar. E não foi pouca coisa. Basta contemplar a “grandeza” (!?) da Cristandade. Seu tempo, porém, terminou. Um novo tempo está nascendo e com ele a necessidade de se voltar às Fontes, ao primeiro Amor. (Cf. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2011-2015, 19). Por isso, do que mais se precisa é que, a exemplo dos Apóstolos, Francisco e Clara, sejamos, seguidores, companheiros, imitadores de Jesus Cristo pobre e crucificado, capazes de, como Ele, beber da fonte do Amor maior que é o Pai (Cf. EG 7); capazes de, como e com Ele, amar os filhos queridos do Pai, dentro, fora ou para além de todos os conceitos ou pré-conceitos, dentro, fora ou para além de todos os “ismos” (Catolicismo, cristianismo, franciscanismo, etc.), pura e simplesmente assim como se encontram, alegrando-nos, por estar, principalmente, entre pessoas vis e desprezadas, pobres e débeis, enfermos, leprosos e mendigos de rua (RNB 9,2).

Paz e Bem!