terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Com São Francisco preparando-nos para o Natal

3º domingo do advento

13/12/2015
Ano C: São Lucas
Liturgia da Palavra: Sf 3, 14-18ª; Is 12, 2-6 (refrão: 12,6); Fl 4, 4-7; Lc 3, 10-18
Mensagem: Alegrai-vos sempre no Senhor, eu repito: alegrai-vos (Fl 4,4)
Imagem ou cena: Mais uma vez, as multidões ansiosas vão a João Batista para que lhes diga o que devem fazer a fim de estarem preparadas para a vinda do Messias.
Sentimento: Júbilo porque o Senhor está para chegar
Introdução
O mistério que hoje celebramos vem assim expresso pelo apóstolo Paulo: “Alegrai-vos”. Por isso, o dia de hoje é chamado, também, “Domingo Gaudete”. “Gaudete” é mais do que alegria. É gáudio, júbilo! E a causa sentimento é porque Senhor está próximo. Assim como um dia Ele veio e visitou seu povo, hoje, de novo, neste Avento-Natal virá visitar-nos. Daí a insistência do Apóstolo: Eu repito, alegrai-vos”
  1. Alegria prometida
O segredo da alegria cristã, nasce da visita, ou melhor do encontro. Deus e seus eleitos, os humanos todos, vão se encontrar. Por isso, o júbilo, a festa é recíproca. Por ser nossa o profeta Sofonias proclama: Grita de alegria, filha de Sião, brada aclamações, Israel, rejubila-te, ri com gosto, filha de Jerusalém” (Sf 3, 14). Mas, por ser também de Deus exclama: O Senhor Deus está no meio de ti... ele exultará de alegria por ti, movido por amor; exultará por ti, entre louvores, como nos dias de festa (4,17-18).
É evidente que o profeta está contemplando o mistério da encarnação. Por isso, quando fala em Sião e Jerusalém podemos e devemos ver e entender tanto a Igreja no seu todo como cada alma contemplativa, amante de Deus.
  1. Alegria realizada
“Jerusalém”, “Sião”, “Igreja”, “alma” contemplativa somos, pois, nós os humanos nascidos da própria presença (parousia) de Deus: o “resto” de seu povo, os pobres e humildes da terra, que, por terem esperado e confiado n’Ele, participamos da restauração de todas as coisas. “O Senhor teu Deus está no meio de ti” – eis o motivo da alegria incontida e exuberante dos pobres e humildes de Deus. Ora, Deus no meio dos humanos, Deus no meio da terra, é o próprio Cristo Jesus – o mistério da encarnação que celebraremos em breve, no Natal do Senhor.
Francisco, homem pobre e humilde, contemplando este mistério em que o Filho de Deus vem surgindo no horizonte de nossas vidas como o Filho do Homem, abrindo-nos assim a porta para transformar-nos em filhos de Deus, não se continha. Comovido chorava e exclamava que devíamos amar muito aquele que muito nos ama. Para ele a Encarnação ultrapassa em Graça e Verdade os limites do Jesus Histórico e transborda para a História de toda a Criação. É a suma obra de Deus, a alegria cósmica, tão bem decantada no famoso “Cântico das Criaturas” perpassado todo ele com esse expressivo refrão “Laudato si, mi Signore”.
O mistério da alegria celeste e universal que Sofonias viu e anunciou como profecia, Paulo o vê e anuncia como obra em curso e consumação. Por isso, aos cristãos de Filipos, e a nós hoje, exorta para que, em vez de inquietar-nos com nada ou por nada (cfr. Fl 4, 6: medén merimnate), apresentemos a Deus os próprios pedidos “com ação de graças” (metà eucharistias). Já que Deus manifestou a sua benevolência (cháris) para conosco, a nossa resposta deve ser sempre a da alegria (chará), a da serenidade e a da gratidão (Cf. A Alegria do Evangelho, do Papa Francisco)
Nesse mesmo sentido, também o Salmo responsorial de hoje, tirado do profeta Isaias, nos convida à “Ação de graças” (eucharistia); que expressemos com ele nossa gratidão ao Senhor pois Sua benevolência vence a Sua ira; que soltemos gritos de alegria e de júbilo pois Ele é grande no meio de nós, o Santo de Israel! (Is 12, 6).
  1. Da alegria do encontro ao desejo de mudar de vida
Como no Domingo passado, também hoje, a figura central do Evangelho recai sobre o último profeta, o batizador João, “o filho da benevolência divina”. Nunca a fala de um profeta foi de tamanha importância e eficácia como essa de João. Suas palavras acerca do Messias que virá para batizar no Espírito Santo e no fogo (16) tocam fundo a mente dos ouvintes a ponto de todos ansiosos perguntarem: Que devemos fazer? (3,10).
É o fruto da palavra divina rebentando no coração dos ouvintes em forma de compunção e conversão. Todos são atingidos e convidados a uma resposta justa, isto é, universal, irrestrita, aberta a e para todas as classes sociais, pois universal será o reinado Daquele que há de vir. Assim, as multidões todas devem iniciar-se no grande princípio da nova humanidade que está para nascer: Quem tiver duas túnicas dê uma a quem não tem e quem tiver comida faça o mesmo! (3,11). Já aos cobradores de impostos – considerados pecadores públicos e necessitados de uma nova ética – a resposta de João é: não exijais nada além do que vos foi fixado (Lc 3, 13). Aos militares, guardiães da força do direito, por sua vez, pede para que não abusem desta força e não usem deste serviço de modo corrupto: Não façais violência, nem mal a ninguém, e contentai-vos com o vosso soldo (Lc 3, 14).
Hoje as multidões que perguntam a João “O que devemos fazer?” somos nós, a Igreja, a comunidade, a família, a humanidade toda. Todos necessitamos de um novo encontro pessoal com Jesus Cristo, de uma nova compunção e conversão. A promessa da nova visita do Senhor é para todos que estão no meio do mundo, em sua profissão, no seu ofício através do qual podem e devem empenhar-se de corpo e alma na reconstrução da Igreja e da nossa “Casa comum”, a humanidade e a criação.
  1. João Batista modelo de resposta
A melhor resposta, porém, acerca da pergunta “O que devemos fazer?” se encontra no próprio João Batista.
A alegre expectativa do povo parece mal se conter na impaciência da espera e recai sobre João: “Não seria ele o Messias?” Mas, na resposta de João, além de uma bela expressão de humildade temos também um precioso exemplo de como nós também devemos esperar o Senhor.
Na visão de João, o Messias seria o “Forte”, aquele que, com sua autoridade (exousia) faria expandir o júbilo da nova criação, do novo Céu e da nova Terra entre os humanos todos e o universo inteiro. Se o batismo dele é um banho que purifica com água, o batismo do Messias será um banho que faz imergir o homem no “sopro sagrado”, isto é, no “Espírito Santo” e no seu “fogo”, como acontecerá na entrega da Cruz, no soprar do Ressuscitado sobre os Apóstolos e em Pentecostes (Lc 3, 16).
Frente a Este Senhor que vem, João se vê e se sente como um escravo, ou melhor, menos ainda do que um escravo: “eu não sou digno de desatar-lhe a correia da sandália” (Lc. 16). É que desatar a correia do seu senhor era obra de escravo pagão. Jamais um escravo judeu desataria a correia da sandália de um senhor judeu – tão humilhante era este serviço. Ao dizer isto, portanto, João se põe como o menor, o mínimo dos homens. E toda a sua grandeza está nesta sua humildade. Jesus Cristo dirá, depois, que João é o maior entre os “filhos de mulher” justamente por sua humildade. Somente um “filho de mulher” se tornaria ainda mais humilde do que João: o próprio Cristo, que ele aguardava.
Quem vivenciou profundamente esta lição foi São Francisco de Assis. Ele, que recebera no batismo o nome de João, aprendeu esta lição dele e de Jesus Cristo e, por isso, quis ser de fato e de nome “irmão menor”.
Conclusão
Advento, tempo de espera do Messias prometido. A espera de uma Vinda que vai inaugurar um novo tempo, um novo Reinado de júbilo, festa, gratidão, humildade e paz. As palavras de Paulo hoje nos auguram esta paz, mostrando sua excelência e sua transcendência: E a paz de Deus, que ultrapassa todo o pensamento (nous), guardará os vossos corações e os vossos pensamentos (noémata) em Jesus Cristo (Fl 4, 7). São Boaventura, teólogo que explicitou a experiência mística de Francisco, dizia que esta paz que transcende todo o intelecto e todo o afeto, que ultrapassa homens e anjos, é o próprio Deus.
Que esta paz, então, que é Deus, nos guarde em Cristo Jesus e nos faça jubilosos e gratos, até o nosso encontro definitivo com Ele. Amém.

(Marcos Aurélio Fernandes – Frei Dorvalino Fassini, ofm)

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