sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A Via da Beleza na Evangelização

Frei Dorvalino Fassini, OFM

A cada página da Evangelii Gaudium somos surpreendidos com belas e animadoras exortações como essa referente ao uso da “via da beleza” na evangelização, principalmente na catequese. “Anunciar Cristo, diz o Papa, significa que crer Nele e segui-Lo não é apenas verdadeiro e justo, mas também belo... [...]. Não se trata de fomentar um relativismo estético [...] mas de recuperar a estima da beleza para poder chegar ao coração do homem e fazer resplandecer nele a verdade e a bondade do Ressuscitado” (EG 17).

Ao evocar o cuidado da beleza como elemento constitutivo da catequese e da evangelização o Papa está nos remetendo simplesmente à nossa origem. Pois, no dizer de Santo Agostinho, Deus nosso Pai é Beleza: “Tarde te conheci, tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei!” (Santo Agostinho).

Na verdade, as criaturas todas, entre elas especialmente o homem, são uma superabundância gratuita da Beleza originária como se pode ver na narrativa da criação. A cada criatura que surgia do nada, Deus parava, contemplava e exclamava: “Ó, como és bela!” E quando surge o homem, então, comovido, exclama: “Ó, és muito belo!” O grego expressa esse sentimento com a palavra kalós que significa realmente “belo”, mas que por extensão pode significar também “bom” como a maioria dos tradutores, de fato o fazem.

E se é belo todo o homem, de que beleza não será o Filho do homem por excelência, Aquele que foi prometido e enviado ao mundo para ser o novo Adão, Aquele do qual o salmista já proclamava: “és o mais belo dos homens, de teus lábios flui a graça; por isso Deus te abençoou para sempre” (Sl 45,3)!

Quem se extasiava até o fundo da alma diante desse divino espetáculo – a encarnação - era São Francisco. Depois de ter recebido os estigmas de Cristo no monte Alverne, como um enamorado apaixonado, vivia exclamando: “Tu és Beleza! [...] Tu és Beleza!” E comenta São Boaventura: “contemplava nas coisas belas o Belíssimo e, seguindo o rastro impresso nas criaturas, buscava por todo o lado o Dileto” (LM IX,1, 7)

De fato, Jesus encanta, atrai e cativa não apenas pelo conteúdo de seus atos, de sua fala, nem apenas pela sua bondade, pela simplicidade de suas palavras, pela clareza de sua linguagem e de suas parábolas, pela pureza de suas atitudes e gestos, mas acima de tudo pela formosura, valência, estimabilidade, preciosidade e transparência de sua pessoa divina e humana. Por isso, como diz Santa Clara, Jesus é o verdadeiro espelho do homem.

Se foi pela beleza que evangelizou nosso Mestre outro não pode ser o caminho de nossa evangelização. Primeiramente precisamos zelar pela beleza de nossa identidade, de nossa alma cristã, de filhos do homem e filhos de Deus; uma beleza que deve transparecer no cuidado pelo nosso modo simples e correto de falar bem como na busca de atitudes e gestos bem medidos em relação a Deus e ao próximo; pelo uso de vestes simples, limpas e bem confeccionadas etc.

Reportando-nos ainda ao momento da criação devemos notar uma grande diferença entre o homem e as demais criaturas. Todas são belas e chamadas a serem belas, mas só o homem é chamado, também, a ser artífice, isto é, fazedor de beleza. Com, efeito, depois de haver sido criado à imagem e semelhança de seu Criador, o homem é chamado a ser o guardião, o cuidador, o artífice de si mesmo e de todo aquele magnífico e admirável universo que o circunda. A primeira vocação do homem, portanto, não é propriamente ser bom, mas artista, isto é, fazedor do belo. E quem faz o belo proclama sua origem: o Belo de todos os belos.

Infelizmente, nas últimas décadas, a fim de libertar a pastoral e a evangelização, principalmente a liturgia, de um esteticismo vazio e exibicionista, muitas vezes, jogaram-se para a lixeira do menosprezo quase todas as iniciativas e disciplinas referentes ao cultivo do belo. Tudo, desde o cultivo de uma boa linguagem, de uma pronúncia correta, de cantos bem afinados, gestos e atitudes bem comedidos, ambientes, arranjos, imagens, pinturas e vestes bem confeccionados, limpos e bem arrumados, tudo, enfim, passou a ser visto e tratado como ostentação luxuosa e desnecessária.

Um cristão consciente dessa sua nobre vocação e missão procurará libertar-se aos poucos desse relaxamento grosseiro que tem, muitas vezes, como origem uma preguiça mental, a ânsia de uma popularidade fácil, bem como a busca de uma glória efêmera e interesseira. Saberá que a beleza eleva, arrasta e comove muito mais que qualquer outra virtude, mais, até mesmo, que a caridade.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Duas Jufristas fazem sua Promessa na OFS

Ariana e Jamile
No dia 14 de setembro de 2014, Festa de Exaltação da Santa Cruz, as fraternidades Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula (OFS) e Monte Alverne (JUFRA), de Porto Alegre-RS, alegraram-se com a Promessa de Vida Evangélica das jufristas Ariana Baccin dos Santos e Jamille Mateus Wiles.

Foi mais um importante passo na caminhada de seguimento dos passos de Jesus, observando os Evangelhos como São Francisco e Santa Clara de Assis. Esta jornada iniciou na Jufra da cidade de Santa Maria e tem sua continuidade aqui em Porto Alegre onde as duas ajudam a implantar a JUventude FRAnciscana.

A Celebração teve como lema :"É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer de todo coração!" e foi realizada na Paróquia São Francisco de Assis, com a participação de familiares e irmãos da OFM, OFMCap, FFB/RS, Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida, Irmãs Franciscanas Bernardinas e OFS.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

João XXIII, o Santo Franciscano da Docilidade ao Espírito

Domingo, 27 de abril, numa celebração simples e ao mesmo tempo inédita, repleta de unção evangélica e emoções, presidida pelo papa Francisco, tivemos a feliz graça de ver a canonização de dois papas ao mesmo tempo: João Paulo II (1978-2005) e o franciscano João XXIII, ‘il papa buono´ (1958-1963).





Poucos nos damos conta ou sabemos que João XXIII foi franciscano. Isso, talvez ou certamente, se deva ao fato de ter sido franciscano da Ordem Franciscana Secular. Fosse membro da primeira Ordem, certamente, estaríamos celebrando-o com toda divulgação possível e, provavelmente, também, com certo ufanismo mundano. Como ou porque é tão difícil sair dessa discriminação? A razão nos parece muito simples: porque ainda não conseguimos compreender e aceitar que todos os franciscanos, independentemente da Ordem, somos portadores de um único e mesmo carisma, de uma única e mesma dignidade e responsabilidade evangélica.



Mas, a canonização do papa do Concílio aumenta nossa alegria, felicidade e responsabilidade, também e principalmente, pelo título com o qual foi canonizado: o santo da “docilidade ao Espírito”.


 Essa sua característica é devida, principalmente, ao fato de, em seu tempo, que ainda é o nosso, ter captado os sinais da necessidade de um novo Concílio ecumênico. Um Concílio que levasse a Igreja, os católicos a deixar de viver de costas para a humanidade e se encarnassem no mundo de hoje através do “retorno às origens do Evangelho e de Jesus Cristo”.


Ora, segundo as Legendas franciscanas, foi justamente o intenso cultivo dessa mesma docilidade ao Espírito que levava Francisco a perceber e captar as inúmeras inspirações, visitas e apelos do Senhor, a começar pela amargura que sentia diante dos leprosos, pela compaixão que os pobres e mendigos de rua despertavam no coração dele. Foi aquela virtude que suscitou o início de um dos maiores e mais belos movimentos “revolucionários”, de conversão que a Igreja já conheceu: o Franciscanismo. Uma conversão ou penitência que tinha como centro, justamente, como a Igreja conciliar de hoje, a busca do encontro com o Jesus Cristo do Evangelho, dos pobres, da simplicidade, da alegria e da fraternidade universal. Um movimento que atingiu e abrangeu pessoas e fiéis de todos os níveis e ambientes, desde papas, bispos e sacerdotes até leigos mais humildes, desde intelectuais das universidades até artistas e simples trabalhadores do campo e profissionais liberais. 


São Francisco considerava de tamanha importância o cultivo dessa docilidade que chegou a estabelecê-la como um dos artigos básicos de sua Regra. Por isso, exortava e admoestava seus irmãos a que jamais se deixassem levar pelo “mundanismo espiritual” (papa Francisco) da soberba, vanglória, inveja, avareza, cuidado e solicitude deste século, detração e murmuração, mas que estivessem sempre atentos, antes de tudo, ao Espírito do Senhor e seu santo modo de operar (RB 10,8-9).


Que São João XXIII, nesta angustiante e preciosa crise, nesta fecunda e desafiadora mudança de época, nos ajude a sermos dóceis e atentos ao Espírito! Amém! 


Frei Dorvalino Fassini, ofm
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Nota: A Festa de São João XXIII é
11 de outubro

domingo, 4 de maio de 2014

Nossa 2ª visita fraternopastoral

Paz e bem!

Ontem, 3 de maio, recebemos nossa segunda visita fraternopastoral, Frei Eugênio, OFM, encarregou-se da parte Pastoral e a Maria Célia do âmbito Fraterno.

sexta-feira, 28 de março de 2014

O primeiro ano do Papa Francisco

Entrevista com John L. Allen Jr.

Há um ano, a Igreja Católica escolhia um novo papa. O cardeal Jorge Mario Bergolio inaugurou uma nova era surpreendente para a Igreja – uma era que ele introduziu ao escolher o seu nome papal, um de seus primeiros atos como pontífice. Ele escolheu Francisco, em honra ao santo italiano medieval dedicado à humildade e aos pobres.

A reportagem é da Rádio Boston, 25-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Mais mudanças estavam por vir. Na Quinta-feira Santa do ano passado, o Papa Francisco lavou os pés de 12 jovens detidos, incluindo duas mulheres e dois muçulmanos. Ele fez um selfie [autorretrato]. Ele se declarou como alguém não "de direita". E disse que, se alguém é gay e busca ao Senhor e tem boa vontade, "quem sou eu para julgar?".

A mudança radical no tom e no estilo fez de Francisco um papa surpreendentemente popular. Mas, no fim, a balança pendem mais para o simbolismo ou para a substância? E o que o primeiro ano do Papa Francisco significa para o futuro da Igreja Católica – uma instituição em si mesma não propensa a mudanças radicais e repentinas?

Sobre isso, entrevistamos John Allen Jr., autor de nove livros sobre a Igreja Católica e editor associado do jornal The Boston Globe.

Eis trechos da entrevista concedida à Rádio Boston.

Sobre a eleição do papa Francisco:
Para ser honesto com você minha primeira reação foi de frustração, porque eu estava em um estúdio da CNN tentando contar essa história para o mundo e, quando o cardeal – o cardeal Jean Louis Tauran – saiu para fazer o que chamamos de anúncio Habemus papam – isto é, o anúncio do novo nome do papa –, nós ficamos sem áudio. Então, eu vi os lábios do cardeal em movimento, mas não tinha ideia de que nome ele estava nos dizendo. Assim, por 30 segundos de agonia, eu estava desesperadamente tentando descobrir quem era realmente o próximo papa. Felizmente, havia uma equipe da TV mexicana atrás de nós que estava gritando "Bergolio! Bergolio!". Então, eu tive uma ideia da situação.

Depois disso, para ser honesto com você, eu fiquei chocado com a escolha do nome. É preciso lembrar que a primeira decisão que qualquer papa sempre faz é o que o nome pelo qual será chamado. A forma pela qual isso funciona, dentro do conclave, é que, assim que um candidato ultrapassa o mágico limiar dos dois terços, o cardeal mais idoso vai abordá-lo e dizer-lhe: "Você aceita a sua eleição como Sumo Pontífice?". No momento em que ele disser que sim, ele é o papa. A próxima pergunta é: "Por qual nome você quer ser conhecido?". Por isso, essa é, por definição, a primeira escolha que ele faz.

E vou ser honesto com você, eu entrevistei historiadores da Igreja ao longo dos anos que disseram que nunca poderia haver um papa Francisco, pelas mesmas razões que nunca poderia haver um Papa Jesus ou um Papa Pedro, que eram figuras singulares e irrepetíveis na vida da Igreja. Mas, mais do que isso, para ser honesto, eu fiquei espantado com a ousadia dele. Porque o nome Francisco é todo um programa de governo em miniatura. Essa figura icônica no imaginário católico que desperta essas imagens da antítese da Igreja institucional – ou seja, a liderança carismática. Perto da terra, perto dos pobres, simplicidade, humildade. Esse é uma enorme quantidade de peso para você colocar sobre os seus ombros logo na saída do portão. Se você não estiver preparado para colocar suas palavras em prática, então você vai estar em apuros de verdade. Francisco, no entanto, durante o seu primeiro ano, de forma convincente, colocou suas palavras em prática.

Sobre a adequação de Francisco para o mundo moderno:
Eu acho que uma das coisas marcantes é que não é como se o Papa Francisco fosse o primeiro papa popular. Quero dizer, eu acompanhei João Paulo II em todo o mundo. Eu estive com ele no México, quando ele teve multidões em torno de 7 milhões de pessoas ao seu redor. Eu estive com ele em Manila, nas Filipinas, quando ele teve 5 milhões. Eu estive na missa do seu funeral em 2005, quando mais de 5 milhões apareceram. E Bento XVI, à sua maneira, em termos de alguém interno ao mundo católico, certamente tem seguidores. Eu acho que o que é único em relação a Francisco é que, no mínimo, ele é ao menos tão popular e potencialmente ainda mais popular fora da Igreja do que dentro dela. Quero dizer, ele é uma figura que parece ideal para se engajar neste mundo secular pós-moderno que não fala mais a linguagem religiosa e tem dificuldade para engolir conceitos religiosos. Ele usa esse tipo de linguagem e, por causa das percepções sobre a sua integridade pessoal, ele carrega uma espécie de autoridade moral que, de algum modo, lhe permite transcender esses limites e se tornar um parceiro de diálogo credível para o mundo inteiro.

Sobre a crítica de que este primeiro ano foi mais sobre o estilo do que sobre a substância:
Depende de como você define substância. Se por substância você se refere a mudar a doutrina da Igreja Católica, então é uma crítica perfeitamente acurada, porque o papa não mudou uma única vírgula do Catecismo da Igreja Católica, que é o seu código oficial de ensino. E, sobre os temas quentes que tendem a estimular a mente ocidental – coisas como sacerdotisas ou aborto, casamento gay, contracepção –, ele deixou claro várias vezes que não vai fazer quaisquer alterações.
Mas eu acho que o ponto é que você pode mudar a Igreja Católica profundamente sem mudar o seu ensino oficial. De um lado, ele criou muito mais espaço para a aplicação pastoral flexível da doutrina – isto é, traduzindo aquele ensino oficial em prática no nível de varejo, nas paróquias e assim por diante. A outra coisa que ele fez foi empurrar a Igreja, chutando e gritando, na direção da verdadeira mudança estrutural em questões como transparência, responsabilização e aquilo que se pode chamar de bom governo.

Ele acabou de criar uma estrutura de finanças inteiramente nova no Vaticano, nomeou um cardeal duro como pedra para geri-la, alguém que tem a mente de um teólogo e os instintos de um zagueiro. Esse homem é basicamente um Brian Urlacher [jogador de futebol americano] de batina, certo? E ele vai pressionar por mudanças significativas. E tudo isso pode não ter o sex appeal de convidar três sem-teto para o café da manhã, mas, vou lhe dizer, não há nenhuma forma para quebrar o domínio da velha guarda no Vaticano de forma mais profunda do que tirando o seu poder e, com efeito, foi isso que Francisco fez. Então, se a sua definição de substância é mudar o ensino da Igreja, então não, não houve mudança substantiva. Se você entende que há um caminhão de formas para engendrar mudanças estruturais na Igreja Católica sem mudar o ensino, então sim. Esse é um agente de mudança estrutural historicamente significativo.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Uma criança na cátedra de São Pedro

O fato

Domingo, 20 de outubro de 2013, à noite, em todos os recantos do mundo, os homens, alegres e maravilhados, pudemos ver pela TV uma criança subir serena, tranquila e infantilmente para o palco onde estava o papa Francisco. Aproximando-se do chefe da Igreja Católica, enquanto decorriam as cerimônias de celebração do Dia da Família, na praça de São Pedro, abraçava-o pelas pernas. Apesar de várias intervenções dos seguranças, a criança não quis sair de perto do Papa vindo, por fim, sentar-se na cadeira do sumo pontífice.


Comentário
Uma criança senta na cátedra de Pedro! Simples fato, mero acaso? Pode ser, mas também, por que não ver nessa iniciativa tão inocente e pura algo do Espírito de Deus que sopra onde e quando quer, principalmente nos inocentes e puros de coração?
A semente do “novo” espírito com o qual o novo papa quer impregnar a Igreja e a humanidade! Não dissera o próprio Senhor que os reis do mundo governam com poder, mas que entre seus seguidores não deve ser assim? Ao contrário, quem quiser ser o maior faça-se o menor?
Até agora o Papa abraçava as crianças, agora são essas que correm ao seu encontro para abraça-lo. Tudo muito significativo, belo, admirável, provocador, emblemático. A aproximação, o encontro entre o sucessor de Pedro, vale dizer entre Igreja e a humanidade estão sendo retomados não pelos grandes e poderosos deste mundo, mas pelas “crianças”. Novo mundo, nova época, nova Igreja, nova humanidade.
Enfim, deixai vir a mim as crianças e não o impeçais porque delas é o reino dos céus.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Espiritualidade, pra quê?

(A propósito da Evangelii Gaudium do Papa Francisco)


Frei Dorvalino Fassini, OFM

foto: Agência Brasil
Essas breves linhas querem apenas registrar a alegria diante de dois fatos. 


Primeiramente, vê-se aumentando cada vez mais o número de manifestações acerca da importância da espiritualidade, do “além” ou “transcendente”. Enfim, o homem está cansando de seus novos ídolos como status, consumo, riquezas, fama, “caridades”, etc. 


O segundo, como outrora Francisco, com a “Perfeita Alegria”, hoje também nosso Papa elege a Alegria do Evangelho como princípio da Vida e de toda Evangelização da Igreja, convocando-nos para que assumamos o início do ser cristão não como uma decisão ética ou uma grande idéia, mas como o  encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (EG, 7)

Isso significa que Espiritualidade, pelo menos para nós, cristãos, não é outra coisa senão Jesus Cristo. Ele, com sua Paixão pelo Pai e pelo homem, vem ao nosso encontro para ser nossa Alegria e nosso caminho de retorno para o Paraíso perdido (Cf. Carta enc. Deus charitas est, 25/12/2005, 1 e EG 7). Nesse sentido, em vez da racional frieza da espiritualidade, até mesmo do cristianismo ou catolicismo, etc. do que mais se precisa é crescer no ardente desejo do Pobre Crucificado (Sta Clara: 1CCL, 12)

Daí a insistente exortação do atual Papa: que façamos de Jesus Cristo e seu Evangelho a Alegria que deve encher de fato nosso coração e nossa vida inteira (EG 1); que sejamos evangelizadores com Espírito, isto é, pessoas que buscam ardentemente ter o encontro pessoal com o amor de Jesus (Evangelii Gaudium, 264).

O perigo de toda espiritualidade (cristianismo, catolicismo, franciscanismo e demais “ismos”) é sua dimensão científica. Acontece que ciência é exercício e merecimento do poder do homem, em especial de sua razão, inimigo número um da alegria e da gratuidade do encontro. Era nesse sentido que Francisco temia os estudos na Ordem (Cf. 2C 195, Atos, 18). Mas, estimava, sim, ao contrário, que os frades, em vez de saberes, espiritualidades, ciências ou doutrinas procurassem sempre ter Jesus consigo (2C 195). De Si mesmo Cristo diz que Ele e o Pai eram UM só (Jô 10,30). De Francisco dizem as Fontes que levava sempre Jesus no coração, Jesus na boca, Jesus nos ouvidos, Jesus nos olhos, Jesus nas mãos, Jesus em todos os outros membros (1C 115).

Hoje, todas as espiritualidades ou doutrinas cristãs estão em crise. Chegaram ao seu cume, esgotaram todas as suas possibilidades. Deram o que podiam e deviam dar. E não foi pouca coisa. Basta contemplar a “grandeza” (!?) da Cristandade. Seu tempo, porém, terminou. Um novo tempo está nascendo e com ele a necessidade de se voltar às Fontes, ao primeiro Amor. (Cf. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2011-2015, 19). Por isso, do que mais se precisa é que, a exemplo dos Apóstolos, Francisco e Clara, sejamos, seguidores, companheiros, imitadores de Jesus Cristo pobre e crucificado, capazes de, como Ele, beber da fonte do Amor maior que é o Pai (Cf. EG 7); capazes de, como e com Ele, amar os filhos queridos do Pai, dentro, fora ou para além de todos os conceitos ou pré-conceitos, dentro, fora ou para além de todos os “ismos” (Catolicismo, cristianismo, franciscanismo, etc.), pura e simplesmente assim como se encontram, alegrando-nos, por estar, principalmente, entre pessoas vis e desprezadas, pobres e débeis, enfermos, leprosos e mendigos de rua (RNB 9,2).

Paz e Bem!