quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O princípio da contemplação em Clara e Francisco

[por Frei Dorvlino Fassini, OFM]


A programação dos festejos jubilares da conversão de Santa Clara escolheu alguns temas considerados fundamentais para o carisma não apenas de Santa Clara e das clarissas, mas também de São Francisco e de todos os franciscanos. Com isso, deseja-se fazer do ano jubilar dos 800 anos de Vida clariana um momento de retorno aos princípios originários de nossa espiritualidade. Entre esses princípios está a contemplação.

Essa escolha se justifica porque, de fato, não dá para imaginar um São Francisco ou Santa Clara, e, consequentemente, um franciscano, sem vida contemplativa. Parafraseando alguém que disse que o cristão de amanhã ou será místico ou não será nada, podemos, dizer, semelhantemente, para nós, que o franciscano de amanhã ou será contemplativo ou não será nada. Ou seja, se não se resgatar essa dimensão originária de nossa identidade seremos como sal que perdeu seu vigor e que, por conseguinte, não serviremos para mais nada senão sermos jogados fora, à margem da humanidade.

Devemos, então e primeiramente, perguntar-nos como foi a vida contemplativa de Francisco, de Clara e dos primeiros frades? Ou, o que e como vem a ser contemplação franciscana, ser contemplativo, tanto para as Irmãs clarissas que vivem essa dimensão, enclausuradas, como para nós frades e irmãs de vida ativa, ou franciscanos seculares que vivemos peregrinos no mundo? E, para ampliar mais ainda esse questionamento, como falar de vida contemplativa franciscana, quando nós, hoje, pastoralistas, ativistas, agentes e consumistas de todos os tipos e gostos, somos tão pouco contemplativos?

Diante dessa dificuldade não nos resta outro caminho senão tentar ouvir o testemunho deles mesmos, isto é, de Clara, Francisco e daqueles que presenciaram seus enlevos místicos.

Assim, para começar, olhemos uma passagem de Santa Clara:

Portanto, caríssima Irmã, mas senhora, muito veneranda, porque sois esposa, mãe e Irmã de meu Senhor Jesus Cristo, assinalada, com todo o esplendor, pelo estandarte de uma virgindade inviolável e da santíssima Pobreza, confortai-vos no santo serviço, iniciado pelo ardente desejo do Pobre Crucificado, que, por todos nós, suportou a Paixão da cruz, arrancando-nos do poder do príncipe das trevas, ao qual estávamos presos pela transgressão dos primeiros pais, reconciliando-nos com Deus Pai. (2CCL 11-13)

O que Clara diz, aqui, acerca da contemplação é muito pouco, mas é tudo porque nos remete para dentro da raiz, da fonte, sem a qual jamais haveria qualquer momento de contemplação ou de êxtase nem para Francisco, nem para Clara, nem para qualquer outro franciscano. Notemos que Santa Clara exorta sua Irmã a assentar seu santo serviço sobre o princípio do ardente desejo do Pobre crucificado. Santo serviço, na espiritualidade cristã medieval indicava, sem mais e nem menos, a Vida religiosa ou consagrada, como diríamos hoje. Portanto, diz Clara à sua Irmã, não esqueça jamais que sua experiência de esposa, mãe e irmã de Jesus Cristo não nasce de você, mas Daquele que é capaz de ir até a morte e morte de Cruz, só para merecer um pouquinho de sua atenção e de seu amor.

Foi esse mesmo ardente desejo do Pobre crucificado que, primeiramente, ferira o coração de Francisco em seu encontro com o Crucificado de São Damião e, posteriormente, o coração de todos os seus seguidores, mormente de Santa Clara. Só que nós, hoje, estamos tão acostumados a falar do “desejo ou da paixão de Cristo” que pouco ou quase nada mais repercute em nossa mente e coração. Quando olhamos, porém, para Clara e Francisco não podemos deixar de perceber que o atingimento que provem desse encontro tornara-se para eles uma questão de vida ou morte. Ou seja, no princípio de sua nova existência, de seu novo “ser cristão” não está uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo de toda a humanidade (Hermógenes Harada).

Trata-se de uma novidade inaudita e humanamente inconcebível: Deus arde em desejo, em paixão pelo nosso humano, por cada um de nós. Um desejo, uma paixão tão “louca”, tão “vergonhosa” aos olhos do mundo, no dizer de São Paulo, que leva o Verbo eterno do Pai a abreviar-se, a apequenar-se tanto e de tal modo que no presépio não tinha outra feitura senão a de um pobre menino de Belém, nascido neste mundo e deste mundo, e depois, na Cruz, mais parecia um verme esmagado, um leproso carregado de pecados e ferido por Deus do que propriamente um homem (Cf. Is 53 e VD 12). Todas essas expressões, porém, não indicam uma figura retórica, mas uma experiência vivida, tão bem testemunhada em inúmeras passagens da vida de Clara e Francisco. Vamos mencionar apenas uma passagem de cada um desses nossos mestres.

São Boaventura falando do princípio originário da nova existência de Francisco assim se expressa: Enquanto, num dia, rezava, assim arrebatado e a abundância do fervor o absorvia todo em Deus, apareceu-lhe Cristo Jesus, como que pregado na cruz. Aquela visão desfaleceu-lhe a alma e a memória da Paixão de Cristo ficou tão profundamente gravada até a medula nas vísceras de seu coração que, desde aquela hora, quando a crucifixão de Cristo lhe vinha à mente, mal podia conter exteriormente as lágrimas e os gemidos, como ele próprio referiu, depois, aos mais íntimos, ao aproximar-se do fim. Com isto, pois, o homem de Deus compreendeu que se dirigiam para ele aquelas palavras do Evangelho: Se queres vir após mim, renuncia a ti mesmo, carrega tua cruz e segue-me (LM 1,5).

A mesma experiência ou vivência pode ser percebida em Clara, como muito bem aparece nessa passagem: Era-lhe familiar o clamor da Paixão do Senhor, a ela que, ora exauria das sagradas chagas afeições perfumadas de mirra, ora fugia aos gozos mais doces. Embriagavam-na veementemente as lágrimas de Cristo padecente, e a memória reproduzia com freqüência aquele que o amor lhe gravara fundo em seu coração. (LCL 30,1-2).

Não é de estranhar, então, se, posteriormente, Clara, como vimos, exorta sua Irmã Inês de Praga a que se fortaleça no santo serviço, iniciado pelo ardente desejo do Pobre crucificado, que por todos nós suportou a Paixão da Cruz (1CCL 13-14).

Francisco e Clara e todos aqueles nossos primitivos Irmãos e Irmãs mergulhavam tão profunda e “naturalmente” nesse mistério como os peixes nas águas de seus rios. Por isso, os vemos seguidamente conversando com o seu Senhor assim como nós costumamos conversar com nossos amigos e familiares. Por isso, também, para eles, os sofrimentos, as dores desapareciam como a neve sob os raios do sol ou a cera se derrete diante do calor da chama ardente do fogo.

Francisco, Clara e todas aquelas Irmãs e Irmãos estavam tão tocados e tomados pelo vigor da Paixão do Pobre crucificado que já não faziam contemplação porque essa Paixão havia feito neles sua habitação tornando-se carne de sua carne, osso de seus ossos, coração de seu coração, vida de sua vida. Assim de contemplativos haviam-se tornado a própria contemplação. Ou seja, a graça do ardente desejo, iniciado com e do encontro com Jesus Cristo crucificado tornara-se para eles não apenas um grande acontecimento, mas um “sacrum convivium”, celebrado a toda a hora nos diferentes acontecimentos de seu cotidiano. Consequentemente, Francisco não precisava de eremitério porque todo o lugar era lugar de contemplação, não precisava de um convento porque todo o mundo, isto é, todas as realidades do seu cotidiano, era seu templo, o lugar de encontrar-se com seu amado como se pode ver nessa passagem:

Francisco era muitas vezes arrebatado por tamanha doçura da contemplação que ficava fora de si, e a ninguém revelava as experiências sobre-humanas que então tivera.

Mas, por um fato, que uma vez chamou a atenção, podemos imaginar com que freqüência ficava absorto na doçura celestial. Certa vez estava sendo transportado num jumento, e precisou passar por Borgo San Sepolcro. Como quisesse descansar numa casa de leprosos, muita gente ficou sabendo da passagem do homem de Deus. De toda parte acorreram homens e mulheres para vê-lo, querendo tocá-lo com a costumeira devoção. E então? Apertavam-no, empurravam-no e lhe cortavam e repunham pedaços da túnica. Ele parecia insensível a tudo e, como um corpo morto, não tomou conhecimento de nada do que estavam fazendo. Afinal, chegaram ao lugar. Muito depois de terem passado por Borgo, o contemplador das coisas do Céu, como voltando de longe, perguntou solicitamente quando chegariam a Borgo ( 2C 98,8).

Também de Clara as fontes nos guardam memoriais admiráveis acerca de sua familiar participação no ardente desejo e fervorosa paixão do Pobre crucificado como a que aconteceu por ocasião da celebração da Sacratíssima Ceia, em que o Senhor amou os seus até o fim. Perto da tarde, aproximando-se a agonia do Senhor, Clara, entristecida e aflita, encerrou-se no secreto da cela. Como, ao acompanhar em oração o Senhor orante e a alma triste até a morte, absorvesse o afeto da tristeza dele, sua memória tornou-se ébria e inteiramente impregnada da captura e da zombaria, caiu na cama. Absorta, em toda aquela noite e no dia seguinte, permaneceu assim, tão fora de si que, com o olhar ausente, cravada sempre em sua visão única, parecia crucificada com Cristo, totalmente insensível. Uma filha, familiar, voltou diversas vezes a ela para ver se queria alguma coisa e encontrou-a sempre se comportando do mesmo jeito. Chegando a noite do sábado, a filha devota acendeu uma vela e lembrou a mãe, não com palavras, mas com sinal, a ordem de São Francisco. Pois, o Santo ordenara que não passasse um dia sequer sem comer. Assim, na presença da Irmã, Clara, como se estivesse voltando de outro lugar, pronunciou essas palavras: "Qual a necessidade de vela!? Por acaso não é dia?" Respondeu a outra: "Mãe, foi-se a noite, passou o dia e voltou outra noite". E Clara: "Bendito seja este sono, caríssima filha, porque, por muito tempo desejado, foi-me concedido. Mas, toma cuidado para não contares a quem quer que seja este sono, enquanto eu viver na carne"  (LCL 31).

Divagações

Na dinâmica ou lógica do amor a causa do enamoramento está sempre no outro. Assim, para nós, na origem de nossa afeição franciscana está a pessoa de Jesus Cristo com tudo o que veio e vem operando a fim de conquistar um pouco de nossa atenção e amor. Mas, se pudéssemos entrar em seu coração e lhe perguntássemos por que faz ou fez tudo isso dirá que os “culpados” somos nós; que nós é que O encantamos e nos tornamos sumamente preciosos, o único tesouro de toda a sua eternidade, o único amor de seu coração; que somos para Ele a “coisinha” mais linda, preciosa, santa e divina que existe.

Por isso, quem está no vigor do transbordamento da paixão ou do enamoramento nada mais verá, nada mais encontrará senão vestígios da pessoa amada em todas as pessoas, lampejos de seu amor em cada criatura ou acontecimento de sua vida. Consequentemente, é próprio do franciscano, a exemplo de seus mestres, divisar sempre, em cada pessoa, criatura ou acontecimento, o brilho do ardente desejo, o perfume da fama Daquele que nos amou por primeiro. Assim, para Francisco o sol não era mais e apenas um astro rei, mas uma presença real do próprio Senhor que criou o sol e todas as demais criaturas somente por causa dele, Francisco. Não existisse ele Deus jamais teria criado o sol e nenhuma de suas criaturas. Para quê? Não faria sentido. Por isso, o franciscano nelas, por elas e com elas saberá celebrar o encontro com Aquele que, profundamente enamorado de nós, quis despojar-se de sua divindade para fazer-se um de nós. Consequentemente, também, o ardente desejo do Pobre crucificado, vivamente admirado, pensado, estudado, recolhido, meditado, amado e contemplado no dia-a-dia da vida daqueles nossos Irmãos e Irmãs “produziu” o que “produziu”: almas ferventes da Paixão do seu Senhor. Não é de admirar, então que, escrevendo a mesma Inês, Clara exorta-a a que sempre se recorde desse princípio, dessa fonte, bem como de jamais abandonar sua decisão, seu propósito de segui-lo (Cf. 2CCL 11).

Na lógica da paixão aquilo que uma vez se crava em nosso coração jamais se desencravará. Não há como se fugir daquilo ou de quem se amou, mesmo que algum dia se venha a odiá-lo. Plasmam-se assim, no coração do discípulo impressões evangélicas ou crísticas tão indeléveis como aquelas que, por exemplo, se modelaram no coração de Maria Madalena, Zaqueu, os Apóstolos todos, São Francisco, Santa Clara e tantos outros. Aquela pequenina afeição originária, que no começo se assemelhava a um simples pavio a fumegar, vai se intensificando, crescendo e incendiando tudo o que está ao seu redor: sentimentos, vontade, razão, trabalhos, alegrias, sucessos, fracassos, enfim todo ser e fazer do vocacionado. Labaredas eternas vão se acendendo em seu coração a ponto de jamais poder esquecer o que um dia incendiou seu coração. Labaredas que podem se amainar com o vento ou tufão de outras afeições, mas jamais extinguir-se com a passagem de pseudos amores. O que passou não passou. A não ser que jamais se tenha passado. É o céu já aqui na terra, a vida eterna na vida terrestre, o divino no humano.

Quando nos entregamos a alguém que nos tocou profundamente com seu bem-querer, dele jamais haveremos de nos desvencilhar. Em outras palavras, tudo aquilo que, no começo, pareciam laços sem importância e desatados transformam-se em grilhões eternos. Tudo que nosso coração conquista ou por ele é conquistado, disso ele se torna para sempre prisioneiro. Não há jamais como fugir-se daquilo ou de quem se amou, mesmo que agora se o odeie. E é mortal que a gente se afaste de quem ou daquilo que se ama. Tolice o que, por vezes se ouve: só um outro amor pode substituir um grande amor (Paulo Santana). Nada há que desencrave o que se cravou uma vez no coração, mesmo que já se tenha desencravado. No coração plasmam-se impressões digitais indestrutíveis. Esqueça de esquecer o que um dia incendiou o seu coração (idem). É como um selo, uma tatuagem eterna gravados em nosso coração. É dessa experiência que já nos falava o Cântico dos Cânticos: o amor é forte como a morte e a paixão é implacável como a sepultura e sua chama é chama de fogo, verdadeira labareda do Senhor. Águas torrenciais não podem apagar o amor, nem os rios afogá-lo (Ct 8,6-7

Quem descreve bem esse processo é frei Hermógenes Harada quando diz que na origem de toda a contemplação franciscana está, pois a experiência do encontro. E a afeição de um encontro jamais vem de nós mesmos como o poder e o arbítrio da nossa própria vontade e do nosso intelecto. Ela já é dom do próprio encontro. No seguimento, Jesus Cristo já sempre nos amou primeiro. O gosto, a afeição do seguimento, a afeição desse caminho, nós recebemos de Jesus Cristo. É necessário, pois receber essa afeição, guardá-la e cultivá-la e fazer crescer, para uma emoção entranhada, dinâmica, para um sentimento profundo e forte, para uma cordialidade firme, constante, efetiva e fiel, enraizada na evidência da pura positividade da busca discipular. (Hermógenes Harada, De estudo, anotações obsoletas, p. 116).

E mais adiante o mesmo confrade conclui dizendo que todo esse processo de amadurecimento tem todas as características de maturação e perfeição que nasce de um encontro na história de amor, onde tudo é busca, doação, engajamento, conquista e risco, dom de um encontro todo especial, de uma aventura singular, perigosa e fascinante, única e absoluta da existência cristã, isto é do seguimento de Jesus Cristo (idem, p. 119).

Tudo isso condiz com o significado etimológico da palavra contemplação. Contemplação, no latim “contemplatio”, literalmente, significa o vigor, o fascínio, a ação que vem do templo ou melhor, de quem está no templo, isto é, na sede, na busca de Deus. Não é a toa que templo, na antiga Grécia e Roma, indicava o espaço delimitado, seccionado do acampamento militar, destinado ao adivinho que, posicionando-se no alto de uma torre, só tinha uma única coisa a fazer: ficar na observância, na escuta e acolhida do sentido do vôo do pássaro. Ou seja, sua função era única e tão somente de interpretar os sinais do tempo: tempo de atacar o inimigo ou de precaver-se de seus possíveis ataques.

Nesse sentido pode-se dizer que contemplar é pôr-se na escuta obediente e fiel dos sinais Daquele que se dispõe, desde toda a eternidade, a vir ao nosso encontro, como sentido da história e do ser do homem. E quando acontece o milagre dessa visita e desse encontro, o homem, incendiado pelo fervor desse toque, mesmo nas coisas mais insignificantes deste mundo, como o lavar panelas para Tereza d’Avila, o visitar doentes para o Crua d’Ars, será frequentemente arrebatado para os enleios celestes; ou como Clara, ver-se-á veementemente embriagado pelas lágrimas do Cristo padecente; verá em sua memória Aquele que o amor o gravara fundo em seu coração (Cf. LCL 30,2).

Esse modo, Clara descreve-o com muita reverência e comoção interior quando exorta sua Irmã Inês a que contemple, todos os dias, a pobreza, princípio desse Espelho, colocado no presépio e envolto em panos. Ó humildade admirável, ó pobreza estupenda! O Rei dos anjos, Senhor do Céu e da Terra, deitado num presépio! No meio do Espelho considera a humildade, ao menos a bem-aventurada pobreza, os inúmeros trabalhos e sofrimentos, que suportou pela redenção do gênero humano. No fim, porém, no mesmo Espelho, contempla a caridade inefável, com que quis sofrer na árvore da cruz e nela morrer todo gênero torpe de morte. Daí, o próprio Espelho, colocado no lenho da cruz, admoestava os transeuntes para considerar o que viam, dizendo: Ó vós todos, que passais pela estrada, escutai e vede se há uma dor, como a minha (4CCL 15-24). 


  • Foto: Monumento Francisco e Clara de Assis, Bairro Glória, cidade do Rio de Janeiro / Eugenio Hansen. 20110518.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Retiro de fim de ano 2011

Ontem, 03 dez., com a presença de mais de 50 pessoas realizamos nosso retiro de fim de ano. Irmãos e principalmente irmãs de nossa fraternidade, de outras fraternidades da OFS e até pessoas que não são da OFS se fizeram presentes e destacamos Isabel, da Fraternidade Regional.

Com o tema O jubiloso caminho de volta ao Pai, Frei Dorvalino Fassini orientou uma reflexão que foi o coroamento de um processo de estudos de cerca de 6 anos em que na Fraternidade estudamos a Regra da OFS.

O almoço foi uma deliciosa carne com feijão e arroz que foi preparada pessoalmente pelo nosso pároco, Frei Orestes.

Aproveitamos a ocasião
para desejar a todos
um Santo Natal
e um bom 2012!

domingo, 30 de outubro de 2011

Ecos da celebração do Espírito de Assis

ou A peciência de Evangélica segundo Francisco

[Frei Dorvalino Fassini, OFM]

Entre as primeiras caracterizações ou definições do carisma franciscano costuma-se colocar a penitência evangélica. “Somos penitentes de Assis”, respondiam os primeiros frades ao serem interrogados acerca de sua origem (Cf. LTC 37).

Só que ser penitente para Francisco em vez do caminho dos fariseus que, através de seus exercícios e sacrificações, buscam sua auto-realização, significa percorrer o jubiloso caminho de retorno do filho pródigo para sua origem, o paraíso perdido, a casa do Pai, inaugurado pela Paixão do Filho do Homem, Jesus Cristo, pobre crucificado, o novo Adão.

Por isso, ao perpassarmos todos os momentos da vida de Francisco haveremos de perceber o júbilo não do herói que busca seu próprio engrandecimento, mas a perfeita alegria do caminho das bem-aventuranças que culmina e se consuma no alto do Gólgota quando Cristo exclama, sumamente feliz e realizado: “Tudo está consumado”.

Consequentemente, a penitência evangélico-franciscana, antes do aspecto de sacrificação, deve ser compreendida como a grande, profunda e radical transformação – conversão – do mundo todo, da humanidade toda, inaugurada por Jesus Cristo e continuada pelo seu Espírito: inauguração de um novo Céu e de uma nova Terra, o Reino de Deus ou dos céus no meio de nós, como costumava proclamar o Senhor em seus sermões pela Palestina.

Isso tudo significa que, segundo Francisco, a penitência evangélica, entendida como o júbilo do filho pródigo que, tocado pela misericórdia do Pai, põe-se no caminho da volta para a casa paterna, não se restringe apenas a algumas pessoas, no caso os cristãos, muito menos a um grupo restrito que se dedica a sacrifícios e penitências(1). Trata-se, antes, de um dom semeado no âmago mais profundo de cada criatura, de cada homem e de cada acontecimento, no coração, enfim, de toda a história da humanidade. Não somos, portanto, os únicos penitentes e nem mesmo os melhores. Mas, a nós seguidores de São Francisco, é entregue e confiado este carisma como missão ou profissão específica e oficial por parte da Igreja.

Francisco vê na penitência evangélica a “exultatio” (exultação), o júbilo dos filhos pródigos – a humanidade toda - que, tocados pela misericórdia do Pai, se animam a pôr-se no caminho do retorno ao Paraíso perdido da casa paterna. Eis o grande princípio do qual nasce, prospera e amadurece toda a nova vida de Francisco e de toda aquela primeira geração de frades, clarissas e irmãos e irmãs da Terceira Ordem.

Recordemos que foi com este entusiasmo que Francisco iniciou sua conversão ou vida de penitente, desligando-se do mundo para entregar-se inteiramente a Jesus Cristo e seu Evangelho: Ouvi todos e entendei-me! Até agora, chamei Pedro de Bernardone meu pai, mas porque me propus servir a Deus, devolvo-lhe o dinheiro, por cuja causa estava perturbado, e todas as vestes que obtive com seus bens, querendo sem demora dizer: Pai nosso que estás nos Céus e não pai Pedro de Bernardone(2).

Não esqueçamos, também, que o convite à misericórdia e ao amor - coração da penitência evangélica - perpassa todo o ministério da Boa Nova de Jesus: Ide e aprendei o que significam as palavras: Quero misericórdia e não sacrifícios(3). E é bem esse o tom que perpassa toda a vida de Francisco. Neste ponto, a compreensão que Francisco tem de penitência é tão originária quanto originária é a Boa Nova de Jesus Cristo. E como essa também aquela só é compreensível pela fé. Pois, como ensina Pascal, ao se falar das coisas humanas, diz-se que é preciso conhecê-las primeiro para então amá-las, o que se transformou em provérbio. Os santos, ao contrário, dizem que, ao se falar das coisas divinas, é preciso amá-las primeiro, e que só se penetra na verdade por meio da caridade, o que é uma das sentenças mais úteis(4).

Esse princípio exultante e jubiloso do penitente evangélico vem expresso de diversas formas. Ele aparece, por exemplo, quando, na famosa Carta aos Fiéis proclama a bem-aventurança dos que odeiam seus corpos com vícios e pecados para receber o corpo e o sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. Recordemos que é esse mesmo princípio que o Senhor, no sermão da montanha, estabelece como caminho para o sumo da felicidade, da bem-aventurança e da realização dos seus seguidores(5).

O júbilo aparece, ainda, através dos verbos que expressam a concretização dessa penitência: amar e receber o Senhor [...], fazer frutificar [...], trazer no coração o Senhor [...], ser filho do Pai celeste [...], etc., culminando na jubilosa exclamação: Oh! Quão felizes e benditos são estes e estas...

A tonalidade jubilosa desta Vida e desta Regra, porém, brilha com toda a sua intensidade e sublimidade quando, na mesma Carta, fala da familiaridade do penitente com as Três Pessoas divinas. Familiaridade que nos torna esposas, irmãos e mães de Nosso Senhor Jesus Cristo; familiaridade que nos dá a ventura de “ter” no céu “um Pai”, um “esposo”, um “irmão” e até mesmo um “filho”.

Até mesmo sua morte em vez de choro foi recheada de alegria e festa, pois, quando o santo viu que sua hora estava chegando mandou trazer um pão, abençoou-o e partiu-o, dando um pedacinho para cada companheiro presente, querendo assim, a exemplo do seu Senhor celebrar, também ele, a alegria da passagem dessa vida para junto do Pai. Quis, assim, passar em ação de graças os poucos dias que ainda restavam até sua morte, convidando todas as criaturas ao louvor de Deus pedindo aos frades que lhe entoassem o Cântico das Criaturas, exortando para esse louvor até a morte, terrível e aborrecida por todos, e, correndo alegre ao seu encontro, convidou-a a ser sua hóspede: Bem-vinda minha irmã morte! (Cf. 2C 217).
  1. Acerca da retumbância desse júbilo leia-se Lc 15,22-24: Mas o pai disse aos seus servos: “Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lha, e ponde-lhe um anel no dedo e calçados nos pés; trazei também o bezerro, cevado e matai-o; comamos, e regozijemo-nos, porque este meu filho estava morto, e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado”. E começaram a regozijar-se.
  2. LTC 20,3.
  3. Mt 9, 13.
  4. Pascal, "Pensées et opuscules", Paris, 1912, p. 185, citado por Heideger M. em Ser e Tempo, Vozes, 1988, p. 194. O mesmo pensamento já expressava Sto. Agostinho: "Non intratur in veritatem, nisi per charitatem (“Não se entra na verdade senão pela caridade”. Agostinho, "Opera", Migne, P .1. XLII, "Augustinus" VIII, "Contra Faustum", lib. 32, cap. 18, idem.
  5. Cf. Evangelho das bem-aventuranças (Mt 5,1-12 segundo o qual Cristo conclui afirmando: Alegrai-vos e exultai, porque grande será a vossa recompensa nos céus).

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

[OFS : Origens, aspectos históricos e situação no século XXI]

1 ORIGEM E ASPECTOS HISTÓRICOS DA OFS

Sendo Francisco de Assis chamado "o santo da fraternidade universal", por ter abraçado toda a criação como sua irmã, não poderia deixar de atender ao Espírito de Deus, que o inspirou a orientar à vivência do Evangelho a todos os filhos de Deus, inclusive aqueles homens e aquelas mulheres que desejavam viver em penitência em suas próprias casas.

Na história das "Ordens Terceiras", consideradas como realidades autônomas, encontra-se que esta denominação foi usada oficialmente pela primeira vez com relação à Terceira Ordem Franciscana num testamento de 1292.

Em razão da absoluta precedência de São Francisco na orientação espiritual de grupos penitenciais, os "collegia" dos penitentes que seguiam os ensinamentos de São Francisco acabaram por dar lugar à Ordem da penitência de São Francisco . Isto no sentido oficial, quando teria sido institucionalizada pela Igreja. Popularmente já era conhecida e utilizada esta expressão desde os tempos da vida de São Francisco de Assis.

A Ordem Franciscana Secular, assim chamada depois do Concílio Vaticano II, em conseqüência do "aggiornamento" pós conciliar, é uma associação pública na Igreja , formada por fiéis privilegiados, por serem beneficiários de uma "graça concedida em favor de determinadas pessoas" , para viver uma vocação específica, com uma precisa identidade.

A vida apostólica de São Francisco e de seus primeiros companheiros, indiscutivelmente, teve início na sua experiência de "conversão" (metanoia). Sua conversão se expressou num compromisso pessoal de transformação interior e num dom de iluminação para os outros. Converter-se significa reconhecer a universal paternidade de Deus sobre toda a criação e significa reconhecer a universal fraternidade do homem com todas as coisas criadas.

A experiência de vida apostólica de São Francisco e de seus primeiros companheiros resume-se no seu esforço de converter-se e de pregar a conversão: facere et praedicare poenitentiam. Inicialmente, eles são (e são reconhecidos como) os "Penitentes de Assis" .

O "Memoriale propositi", que vigorou de 1221 a 1228, foi um documento da Igreja dirigido a todas as fraternidades de penitentes em geral, dentre eles, os de Assis. Foi aprovado pelo Papa Gregório IX para todos os penitentes da época, portanto sem nenhuma influência de Francisco de Assis.

Na Regra Não Bulada dos Frades Menores – (Cap. XXIII, 16 a 22), consta o ardente desejo de Francisco pela salvação de toda a humanidade. A inspiração original de Francisco consta da "Carta aos Fiéis", que é hoje o Prólogo da Regra de 1978.

O Papa Nicolau IV (que era frade menor) em 18 de agosto de 1289 aprovou a Bula "Supra Montem", com a qual a Ordem da Penitência do mundo inteiro foi confiada ao cuidado dos Frades Menores como visitadores e procuradores de suas fraternidades, sendo que, deste apostolado, deviam prestar contas diretamente aos Sumos Pontífices.

Em 30 de maio de 1883 o Papa Leão XIII (franciscano e membro da OFS), aprovou uma Regra específica para os franciscanos seculares, por meio da Encíclica "Misericors dei Filius". Nota-se menos rigor nesta Regra, pois o Papa entendeu que a situação do século XIII era bem diferente do século XIX. Somente em 25 de agosto de 1957 foram aprovadas as primeiras Constituições Gerais da OFS, relativas à Regra de Leão XIII. Não foram feitas a partir da própria OFS, mas impostas. Por isso não atenderam completamente às aspirações de muitos franciscanos seculares.

Pelo Breve Apostólico "Seraphicus Patriarcha", em 24 de junho de 1978 foi aprovada a Regra de Paulo VI, assinada poucas semanas antes de sua morte. Em 27 de setembro de 1982, o Papa João Paulo II recebeu peregrinos franciscanos seculares na sala máxima e lhes disse: "Amai, estudai e vivei a Regra da Ordem Franciscana Secular, ...Ela é um autêntico tesouro nas vossas mãos, sintonizado no espírito do Concílio Vaticano II e correspondente ao que a Igreja espera de vós. Amai, estudai e vivei esta Regra, porque os valores nela contidos são eminentemente evangélicos. Vivei estes valores em fraternidade e vivei-os no mundo, no qual, pela vossa vocação secular, estais envolvidos e radicados. Vivei estes valores evangélicos nas vossas famílias, transmitindo a fé com a oração, o exemplo com a educação, e vivei as exigências evangélicas do amor recíproco, da fidelidade e do respeito à vida. Cristo, o pobre e crucificado, seja para vós, como foi para Francisco de Assis, o inspirador e o centro da vida com Deus e com os homens". Esta Regra tem apenas 26 artigos, profundos, belíssimos pelo que contém. Muitos livros já foram escritos sobre ela, mas o Capítulo II, relativo à forma de vida é considerado o mais importante.

Em 8 de setembro de 1990, foram aprovadas em caráter experimental as Constituições Gerais da Regra aprovada pelo Papa Paulo VI com três grandes linhas mestras: a secularidade, a unidade e a autonomia. No decorrer de dez anos após ampla consulta, que envolveu todas as Fraternidades Nacionais com seus respectivos Conselheiros Internacionais e a própria Presidência do Conselho Internacional da OFS, essas Constituições Gerais foram atualizadas e suas emendas aprovadas em 8 de dezembro de 2000, promulgadas em 6 de fevereiro de 2001 e entraram em vigor a partir de 6 de março de 2001. No texto foram observados os seguintes critérios: adesão ao direito comum e ao direito próprio da OFS; respeito pelo texto já aprovado em 1990 pela Santa Sé; flexibilidade organizativa; adaptação cultural e lingüística.

2 A ORDEM FRANCISCANA SECULAR NO SÉCULO XXI

Como está a Ordem Franciscana Secular no século XXI? Com seus documentos organizados e aprovados pelas instâncias superiores competentes, a OFS tem condições de caminhar com orientações seguras. Todos eles foram escritos para serem observados pelos franciscanos seculares não como legalistas, mas para serem estudados, vendo por entre as linhas as luzes do Espírito que nos chamou a uma grande vocação, que é uma verdadeira escola de espiritualidade e de cidadania.

O binômio fé e vida está presente na vivência de toda a Regra da Ordem Franciscana Secular. Não há mais lugar para um devocionismo inoperante como ocorreu em algumas fraternidades no passado, mas para um dinamismo que envolve todo o cotidiano, em qualquer circunstância, tanto na vida pessoal como na fraternidade.

Com o passar do tempo, o crescimento da família e o desenvolvimento das atividades da Ordem Franciscana Secular, foi necessária sua atualização, que ocorreu com a Regra de 1978 e respectivas Constituições Gerais. Seus membros vivem em recíproca comunhão vital com toda a Família Franciscana e configura-se como uma união orgânica, isto é, como um corpo , cujas células vitais, as Fraternidades locais, por sua vez agrupam-se em Regiões, que abrangem as nações espalhadas pelo mundo, dando o sentido universal e eclesial, as quais têm na Igreja a sua própria personalidade moral .

2.1 [As Fraternidades Locais]

As Fraternidades Locais devem ser erigidas canonicamente e assim elas se tornam "a célula primeira de toda a Ordem" . Elas têm autonomia administrativa quanto aos seus bens e atividades apostólicas, estas organizadas por seus animadores e guias, isto é, os membros de seus respectivos Conselhos, os quais cuidarão de sua atuação em comunhão com as fraternidades do mesmo nível e as orientações recebidas das fraternidades dos níveis superiores.

É na fraternidade local que se desenvolve toda a vocação franciscana secular. Sendo a base de todo o edifício, podemos dizer que nela é que os irmãos e irmãs aprendem as noções sobre a OFS, sua forma de vida e atividade apostólica, esta com atenção especial à presença ativa na Igreja e no mundo, por uma sociedade justa e fraterna, a partir da vida na própria família, sendo mensageiros de alegria e esperança na secularidade.

A Eucaristia é o centro da vida da Fraternidade. Quando se celebra com a participação da Fraternidade procura-se sublinhar o vínculo fraterno que caracteriza a identidade da Família Franciscana. Os franciscanos seculares são convidados a participar com a maior freqüência possível, lembrando do respeito e do amor de São Francisco que na Eucaristia viveu todos os mistérios da vida de Cristo.

Cada fraternidade local é uma comunidade eclesial. Sua assistência espiritual é confiada ao cuidado pastoral da Ordem religiosa franciscana que a erigiu. O Assistente Espiritual é membro de direito, com voto, do Conselho da Fraternidade a qual presta a assistência e colabora com o mesmo em todas as atividades. Não exerce o direito de voto nas questões econômicas .

A JUFRA tem organização específica, com métodos de formação adequados para os jovens. Contudo, a OFS se considera responsável por ela e geralmente uma Fraternidade de JUFRA está intimamente ligada a uma Fraternidade Local da OFS. Até porque, embora seja livre a opção vocacional dos jovens tanto dentro como fora da Família Franciscana, a grande maioria ingressa nas fileiras da OFS. Temos atualmente a importante figura do animador fraterno, que é um membro professo da OFS, que atua na Fraternidade de JUFRA, como elo de ligação entre ambas. As Constituições Gerais da OFS dedicaram os artigos 96 e 97 à Juventude Franciscana, afim de orientar tanto os jovens, como a própria OFS para promover a vitalidade e expansão das Fraternidades de JUFRA. Também na JUFRA, a Fraternidade Local é a célula vital, onde os jovens vivem a formação inicial e o discernimento para a vocação a ser abraçada no seguimento de Nosso Senhor Jesus Cristo ao modo de São Francisco de Assis.

2.2 [A Fraternidade Regional]

A Fraternidade Regional agrupa as Fraternidades de vizinhança geográfica, ou realidades pastorais comuns, cuidando da união entre elas e a integração colegiada das Ordens Franciscanas Religiosas que cuidam da assistência espiritual em seu âmbito. É animada e guiada por um Conselho e um Ministro, regida pelos Estatutos Regional e Nacional e tem sede própria (adquirida, alugada ou cedida).

2.3 [A Fraternidade Nacional]

A Fraternidade Nacional é a união orgânica de todas as Fraternidades Locais existentes num país, unidas e coordenadas entre si, mediante as Fraternidades Regionais. É animada e guiada por um Conselho e um Ministro, regida por Estatuto próprio e tem sede (adquirida,
alugada ou cedida).

Geralmente em sua sede funciona o secretariado, que cuida do expediente, do arquivo, do almoxarifado e das relações com os membros do Conselho Nacional, com todas as Fraternidades Regionais e Locais que se dirigem a este órgão executivo para suas necessidades.

A constituição de Fraternidades Nacionais é de competência da Presidência do CIOFS a pedido e após diálogo com os Conselhos das Fraternidades interessadas e os Superiores Religiosos, aos quais competirá a assistência espiritual.

A Assembléia ou Capítulo Nacional representa todas as Fraternidades de seu território, com poderes legislativo, deliberativo e eletivo. A Fraternidade Nacional é uma instância de governo que, com seu próprio Estatuto determina a composição do Capítulo, bem como de seu Conselho, conforme suas atividades e condições culturais, a periodicidade, as competências e o modo de convocação.

2.4 [A Fraternidade Internacional]

A Fraternidade Internacional abarca todas as Fraternidades franciscanas católicas do mundo. Atua conforme seu próprio Estatuto e as Constituições Gerais. Tem característica diversa em sua composição: tem um Conselho Internacional com representantes das Fraternidades constituídas no mundo, que são os Conselheiros Internacionais, um representante da JUFRA e quatro Assistentes Gerais que formam a CAS: Conferência dos Assistentes Espirituais e pela Presidência do CIOFS, que a integra, juntamente com o Ministro Geral.

A Presidência do CIOFS é formada pelo Ministro Geral, Vice Ministro, sete Conselheiros da Presidência atualmente constituídos para as áreas lingüísticas: portuguesa, italiana, espanhola, inglesa (dois Conselheiros), francesa e alemã, um representante da Juventude Franciscana e os quatro Assistentes Gerais. As Constituições Gerais estabelecem no artigo 72.2, que os Conselheiros da Presidência podem representar as áreas baseando-se em critérios lingüísticos, culturais e geográficos.

Quando reunida em Capítulo Geral, a Fraternidade Internacional representa a máxima instância de governo, com poderes: legislativo, deliberativo e eletivo, podendo legislar e expedir normas conforme a Regra e Constituições Gerais. Isto ocorre para as eleições a cada seis anos e ao menos um Capítulo Intermediário a cada três anos.

A Presidência se reúne ordinariamente ao menos uma vez ao ano, contudo, dado o crescimento do número de Fraternidades, os trabalhos das Comissões de Presença no mundo, Jurídica e Econômica, bem como a realização das Visitas Fraterno Pastorais e Capítulos e, sobretudo, as Fraternidades emergentes, têm mostrado a necessidade das citadas reuniões serem realizadas ao menos duas vezes ao ano, sem prejuízo do uso constante da comunicação eletrônica via INTERNET, telefônica via SKIPE ou outros meios, além da via postal.

Pelas últimas informações obtidas na reunião da Presidência de abril de 2006, a OFS está presente em 103 países: 59 com Fraternidades constituídas e 44 com Fraternidades emergentes.

Quanto à sede, podemos dizer que este ano de 2006 é histórico para a OFS, pois, foi assinado o contrato de compra de um apartamento com boa localização em Roma, onde funcionará o Secretariado Internacional da OFS, com seu almoxarifado, arquivo e todos os equipamentos necessários às suas atividades administrativas e de contado com todas as nações do mundo. Isto ocorreu graças à colaboração colegiada de toda a Família Franciscana, bem como de todos os franciscanos seculares, que precisam continuar contribuindo até que seja quitado o referido contrato, bem como com as despesas ordinárias relativas às atividades do próprio Secretariado e Presidência do CIOFS.

2.5 Atividades comuns em todos os níveis

Formação inicial

Este tempo de formação inicial compreende duas fases:
  • A iniciação, na qual se observa nos candidatos as condições para a admissão à Ordem: professar a fé católica, viver em comunhão com a Igreja, ter boa conduta moral e dar sinais claros de vocação. Neste período deve ocorrer o discernimento da vocação e o recíproco conhecimento entre a Fraternidade e o aspirante.
  • A formação específica onde ocorre a maturação da vocação, a experiência de vida evangélica junto com a fraternidade e o melhor conhecimento da Ordem. Compreende reuniões de estudo, oração, experiências concretas de serviço e de apostolado. Dá-se abertura para que os formandos conheçam outras fraternidades, por meio de encontros distritais, jornadas franciscanas e outros eventos. Este período prepara os candidatos para a profissão ou promessa de vida evangélica, que é um compromisso perpétuo, que se celebra conforme as disposições do Ritual
    da OFS.
Formação Permanente

Esta formação compreende toda a vida. Tem por objetivo ajudar a cada membro da OFS em seu itinerário vocacional.

As fraternidades locais devem programá-la no ano precedente, sendo que devem buscar o elenco dos temas nas prioridades regionais, nacionais, internacionais e além desses, nas necessidades apresentadas pela Fraternidade, conforme tenha sido observado pelos membros do Conselho, ou em seu próprio Capítulo local.

A Assistência Espiritual e Pastoral à OFS

Este assunto é muito importante para a OFS. Somos a dimensão secular do carisma franciscano, não podemos nos distanciar de nossos Frades e Irmãs religiosas franciscanas, porque precisamos viver a recíproca comunhão vital entre todos os membros da Família Franciscana.

O cânon 303 do CDC assegura à OFS por meio dos seus Assistentes Espirituais a fidelidade ao carisma, a comunhão com a Igreja e a Família Franciscana, valores esses que são um compromisso de vida para os franciscanos seculares.

A atividade dos Assistentes é de competência dos Ministros Gerais para o Conselho da Presidência do CIOFS e Conselho Internacional e dos Ministros Provinciais para os Conselhos Nacionais, Regionais e Locais. As atividades podem ser exercidas pessoalmente, ou mediante um delegado idôneo e preparado.

Nas Fraternidades Regionais, Nacionais e Internacional, podem existir as Conferências, compostas de um representante de cada ramo da Família Franciscana: OFM, OFMConv, OFMCap e TOR, a fim de melhorar o desempenho das atividades da assistência espiritual, bem como acompanhar com adequado cuidado o cumprimento de suas atribuições.

Têm crescido muito o interesse pelo trabalho da assistência espiritual com o apoio dado pela Conferência dos Assistentes Gerais, que em 2002, editou o Estatuto para a Assistência Espiritual e Pastoral à Ordem Franciscana Secular e em 2006 o Manual para a assistência à OFS e à JUFRA (este ainda deverá ser traduzido para o português). Contudo, há muito a ser feito nas Fraternidades Nacionais, Regionais e Locais, sobretudo.

A Ordem Franciscana Secular valoriza muito os seus Assistentes Espirituais em todos os níveis, mas é na Fraternidade Local que sua atuação é de suma importância, pois eles têm ontatos mais freqüentes com os membros da Fraternidade, têm a oportunidade de conhecê-los e contribuir com sua formação inicial e permanente.

A Comunhão com a Família Franciscana e a Igreja

As Fraternidades da Ordem Franciscana Secular em geral são abertas à comunhão com toda a Família Franciscana, participando de atividades comuns e fazendo-se presente em ocasiões especiais para as quais éconvidada.

Muitos membros da OFS participam de organismos internacionais, nacionais, regionais e locais da Família Franciscana em diversos países.

A comunhão com a Igreja se realiza com mais ênfase nas Fraternidades Locais que atuam junto às respectivas Paróquias e aquelas cujos membros particularmente pertencem a uma Pastoral ou alguma atividade específica.

Existem também as atividades de membros da OFS nas Dioceses.

A OFS tem oferecido à Igreja ao longo da história, um bom número de diáconos, sacerdotes, religiosas, bispos, arcebispos, papas, santos e santas. Seus membros, têm, portanto, muitos exemplos para conhecer, amar e glorificar a Deus com suas próprias vidas, continuando esta obra.

A nível internacional há um vínculo muito particular com o Santo Padre o Papa, de quem a OFS recebeu a aprovação de todas as suas Regras e a confirmação de sua missão na Igreja e no mundo.

3 CONCLUSÃO

São patronos da OFS São Luiz IX, rei da França e Santa Isabel da Hungria. De Santa Isabel, estaremos celebrando o oitavo centenário em 17 de novembro de 2007. Como o XII Capítulo Geral da OFS será realizado de 15 a 22 de novembro de 2008, a Hungria ofereceu-se para ser a Sede do próximo Capítulo Geral, o que foi aceito pela Presidência, pois está previsto que nesta ocasião estaremos finalizando as comemorações do oitavo centenário do nascimento de Santa Isabel, que terá a duração de um ano. Junto a estas festividades a OFS participará também do oitavo centenário do nascimento do carisma e da aprovação da Regra deSão Francisco junto com toda a Família Franciscana.

Em todo o contexto da Ordem Franciscana Secular no século XXI, o que realmente importa a todos que abraçaram esta vocação é nossa vitória final com Cristo. Lutamos por um mundo de paz, de fraternidade, de amor a todas as criaturas, com os olhos postos no Evangelho, na Regra e no mundo de hoje.

O mundo é nossa cela, nele passamos por todas as situações comuns de todos os homens e mulheres que se põem a caminho para alcançar sua meta como filhos de Deus.

Como São Paulo o fez, podemos também nós comparar nossa corrida vivendo de tal modo que, afinal, possamos dizer: combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Sim, guardar a fé e fortalecê-la para animar a outros para viverem a vocação franciscana secular, ou qualquer outra na Família Franciscana, ou mesmo ajudar as pessoas a viverem melhor sua vida cristã na Igreja é um grande desafio para os nossos dias e felizes aqueles e aquelas que perseverarem até o fim.

O ideal de vida dos franciscanos seculares é algo grandioso, que nos faz alcançar a intimidade com a Trindade Santa e viver em paz no meio de tantos conflitos e sofrimentos dos quais até mesmo nós, que vivemos nossa fé, não estamos livres de sermos vitimas ou por infelicidade, autores de situações constrangedoras, como seres humanos que somos.

Contudo, nem São Francisco, e tantos outros santos passaram por esta vida sem altos e baixos, alegrias e sofrimentos, sucessos e fracassos. A vida da Ordem Franciscana Secular tem sido assim também, ao longo dos séculos, mas ninguém poderá deixar de afirmar que para quem tem a vocação franciscana secular, este é um caminho seguro, garantido por Nosso Senhor Jesus Cristo, para alcançar a plenitude da vida, não só para a eternidade, mas começando a vivê-la desde já, para continuar a construir a história desta Ordem que tantos santos já levou aos altares.

Confiantes no Evangelho, na Regra e na misericórdia do Senhor, continuaremos a viver nossa vida de penitência no século XXI, plantando sementes, das quais, não vemos o crescimento, mas o Senhor de tudo é quem conhecerá o verdadeiro fruto na colheita final.

Autora: Maria Aparecida Crepaldi, OFS
Síntese: Rosalvo Mota, OFS

domingo, 2 de outubro de 2011

Lançamento de Livro do Frei Dorvalino

No próximo dia 03 de outubro durante a celebração do Trânsito de São Francisco, às 19h, na Paróquia São Francisco, Porto Alegre,
 a Província dos franciscanos Menores do RS fará o lançamento de mais um
 livro dedicado à Espiritualidade franciscana com o título:
IRMÃOS E IRMÃS DA TERCEIRA ORDEM REGULAR DE SÃO FRANCISCO REGRA E VIDA - LIDA E COMENTADA

de Frei Dorvalino Fassini, ofm.

Nesta
 obra, o leitor poderá confrontar-se com a descoberta mais expressiva,
admirável e profunda de Francisco acerca da penitência evangélica –
essência, princípio originário e fio condutor de toda a nova e atual Regra e Vida dos Irmãos e das Irmãs da Terceira Ordem Regular de São Francisco:
 o jubiloso caminho de retorno do filho pródigo – inaugurado pela Paixão
 do Filho do Homem, Jesus Cristo pobre e crucificado, o novo Adão, a
humanidade e a criação toda - para sua origem, o paraíso perdido, a casa
 do Pai do céu.
Essa obra não se encontrará nas
Livrarias ou Casas do ramo. Em compensação pode ser adquirida na
mencionada Paróquia ou recebida em casa através do Correio.

Pedidos:



Província São Francisco de Assis, OFM

Av. Juca Batista, 330

91770-000 – Porto Alegre – RS

Tel: (051)3246-9937

3246-1768

Email: icsfa@terra.com.br

icsfa@portoweb.com.br

Ou:

Frei Dorvalino Fassini, ofm

R. São Luis, 607

90620-170 –Porto Alegre – RS

Tel: (051) 3219-5769

3223-3244

Email: dfassini@portoweb.com.br



Outras obras à disposição:


  • Vida Consagrada e Formação, 2002, 213 p.

  • Vida e Regra Franciscana, 2005, 390 p.

  • Franciscano Secular – Vida e Regra, 2007, 170 p.

  • São -Francisco de Assis – Juventude e Conversão, 2009, 234 p.

  • Exposição sobre a Regra da Ordem dos Frades Menores, 2009, 134 p.

  • São Francisco conta sua Vida, 2010, 47 p.

  • São Francisco de Assis – Testamento – Leitura e Comentários, 2010, 157 p.

  • Fontes Franciscanas – 1596 p.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O SER DO SER FILHO DE DEUS SEGUNDO SÃO FRANCISCO


Pensamentos soltos e desajeitados para a Festa de São Francisco

Frei Dorvalino Fassinio, OFM

Se há algo que angustia e apaixona o homem de todos os tempos, pelo menos para quem vive um pouco além da superfície da vida, das coisas e dos acontecimentos, é a questão que diz respeito a si mesmo, sua existência: O que é o homem? Qual sua origem, seu destino, vocação e missão? Enfim, qual o sentido da vida e de tudo o que existe?

Muitas foram as tentativas que, desde os primitivos pré-socráticos, até hoje, se fizeram para encontrar e dar uma resposta digna e adequada a essa pergunta. Muitos escolhem ou elegem algo para que se transforme “no amor de sua vida”: dinheiro, fama, diversão, comida, sexo, futebol, política, ciência, pastoral, pátria, família e até mesmo uma religião, um deus. Em verdade, nada disso é o sentido da vida, embora todos esses “amores” possam, de uma ou de outra forma, dar um sentido à vida.

Nosso seráfico pai não se escapou dessa questão. Depois de buscar e percorrer caminhos que o levassem a plena realização de sua vida tem de suportar uma longa crise de sem saber o que fazer. Porém, num dos momentos mais comoventes e radicais de sua conversão, diante do pai, do Bispo, autoridades e povo de Assis, Francisco, depois de desnudar-se todo e inteiramente de todos os sentidos da vida que andou procurando e vivendo, exclama: Ouvi todos e entendei-me. Até agora chamei Pedro de Bernardone meu pai, mas, porque me propus servir a Deus, devolvo-lhe o dinheiro [...] para dizer sem demora: Pai nosso que estás nos céus e não mais ‘pai Pedro Bernardone’ (LTC 20).
_____

Essa passagem serve para ilustrar o sentido de nossa vocação humana: vir a ser filho de Deus, o Pai do céu. Ser filho de Deus, porém, antes de fato ou ocorrência, um dado ou coisa pronta, existe como tarefa, com-vocação, busca, questão. Como é essa busca? Como caminho de caminheiro, isto é, como busca da novidade do desconhecido no qual já estamos e somos.

Desde que, no paraíso terrestre, decaiu na busca e edificação de sua identidade de ser filho de Deus, sendo verdadeiramente homem e não “deus”, agora para reconquistá-la o mesmo homem não tem outra saída senão percorrer o caminho de retorno, de volta, assumindo seu verdadeiro humano que jaz perdido no fundo mais profundo de seu ser.

Esse caminho, primeiramente presente em forma de promessa, no AT, é inaugurado definitiva e realmente, em e para todos os homens, em e para todas as criaturas pelo Verbo eterno do Pai, o por meio do qual todas as coisas foram feitas (Jo Pró), que, descendo do trono real, para o útero da Virgem Maria (Ad I 16-18), ilumina todo o homem que vem a este mundo (Jo Pró.). Assim, o ser do ser filho de Deus só pode vir de dentro do nosso humano como pérola preciosa que, para aparecer como tal, precisa ser cuidadosa e pacientemente trabalhada, esmerilhada, ou, como o ouro que, para vir a ser verdadeiramente ouro, precisa passar pala prova do cadinho (Zc 13,9).

Assim, quando – e tão somente - o homem tiver percorrido do começo até o fim esse processo verá surgir do “seu” íntimo mais íntimo sua verdadeira identidade: o ser do ser filho de Deus. Só então poderá exclamar como Cristo na Cruz: tudo está consumado (Jo 19,30). Esse percurso vem assinalado também por Santo Agostinho quando proclama: Não queiras ir para fora; volta a ti; no interior do homem habita a verdade: a necessidade da busca (De vera religione, 39,72).

Quem compreendeu com precisão e assumiu com profunda paixão, júbilo, alegria e entusiasmo esse caminho foi São Francisco e sua primeira geração de frades, como o descrevem com beleza ímpar as Fontes Franciscanas (FF), mormente seus Escritos e os não menos famosos “Atos (fioretti) do Bem-aventurado Francisco e dos seus companheiros”. Uma boa e precisa explicação do caminho franciscano de desvelamento do humano aparece nessa passagem das FF da edição do MSA, pág. 9.

Desde os primeiros desafios e confrontos de conversão, passando pelo Encontro com o leproso, com o Crucificado de São Damião e com o Evangelho do Envio dos Apóstolos, ouvido na Porciúncula, Francisco, depois Clara e toda aquela plêiade de seguidores de Cristo, não são mais os mesmos. Surgem novos homens, novas mulheres e inicia-se um novo tempo. Por isso, o século treze é considerado o primeiro século franciscano. Trata-se de uma forma de Vida, isto é, de uma maneira de ver e viver centrada na pobreza, na simplicidade, na paz e no bem evangélicos. O entusiasmo por esse ideal foi de tal abrangência e profundidade que veio a se constituir em verdadeira cruzada de retorno, de volta para a vida evangélica ou paradisíaca cujas sementes já estão presentes em todo ser humano. É que o Evangelho só chega ao homem por já brotar de dentro do humano. Nisso está todo o desafio da nossa Revelação.

Uma avalanche, então, se precipita história abaixo, provocando transformações radicais nos parâmetros de encontro e desencontro dos homens consigo mesmos, com Deus e com os outros das gerações futuras. Pelo espírito evangélico vivido por São Francisco, o mundo já não é mais o mesmo de antes. Desde então, instaura-se na história um rito de passagem para uma outra coisa, a coisa que a Fé, a Esperança e o Amor de Deus desencadearam na humanidade de todos os homens. Como é próprio de todo rito de passagem essencial, isto é, de passagem no modo de ser e realizar-se dos homens, o ideal franciscano vestiu-se de falas e se encarnou numa variedade de linguagens. Todas são percursos de uma vitalidade evangélica que enchem de vigor todas as formas da vida humana de homens e mulheres, jovens e adultos, letrados e sem letras, nobres e plebeus, seculares, religiosos e eclesiásticos. Por isso, os registros são os mais diversos. Temos escritos, mas temos também espírito, temos estórias, mas temos também cantos e hinos, temos lendas e narrativas, mas temos também comportamentos e sacrifícios. Temos hereges e heresias, mas dentre eles, temos também santos e mártires. Temos espirituais e joaquimitas, mas destes temos também mártires e pensadores. Acima do real com suas limitações, está sempre a realidade com suas possibilidades de ser e realizar-se. Todos estão imbuídos do mesmo fervor, do espírito da fraternidade e humanidade que vêm do novo encontro com o Evangelho, na alegria de difundir a paz, o bem e o dom de Deus recebidos de graça pela Graça.

Os atos da vida dessas primeiras gerações não são fatos apenas; são feitos, verdadeiras taumaturgias, isto é, feitos realizados no poder e pelo poder de criação do Espírito de Cristo pobre, crucificado. Por isso, também, não têm e nem carecem de data ou lugar. São de todos os tempos, pertencem a todos os lugares. Estão além e/ou aquém de qualquer verificação documental ou prova historiográfica. São monumentos vivos de uma verdade originária que não necessitam ir à fonte, uma vez que já são fonte por provirem da fonte de toda vida e se moverem no entusiasmo de uma epifania venturosa, da epifania do Amor de Deus. É a coroa de justiça de que fala o Apóstolo, dada pelo Senhor naquele dia a todos que lhe amarem a manifestação na história (FF MSA, 9).

Tanto em Cristo como em Francisco, o ser plenamente filho de Deus só vem aparecer no fim de suas vidas, e, ambos, pela consumação do caminho do humano. Como já vimos, João testemunha com muita clareza o auge desse caminho percorrido pelo filho do Homem ao registrar sua últimas palavras na Cruz: Tudo está consumado (Jo 19,30). Só nesse momento dá-se a plenitude da glorificação do humano: Eu te glorifiquei na terra. Terminei a obra que me deste para fazer. E agora, Pai, glorifica-me junto de ti com a glória que tive contigo antes que o mundo fosse criado (Jo17,4).

Também em relação a Francisco a consumação desse caminho é descrita como brilho, clarificação. Segundo uma das testemunhas, Francisco, em sua morte, se parecia como uma estrela do tamanho de uma lua, brilhando com toda a claridade do sol. E por causa disso, houve um grande ajuntamento de muitos povos, louvando e glorificando o nome do Senhor. Toda a Assis veio em peso, e a região inteira apressou-se para ver as grandezas de Deus que o senhor tinha demonstrado em seu servo. Lamentavam-se os filhos, privados de tão grande pai, e demonstravam com lágrimas e suspiros o piedoso afeto do coração. Mas, a novidade do milagre transformou o pranto em júbilo e o luto em exultação. Pois, viam o corpo do bem-aventurado pai ornado com os estigmas (2C 217).

A consumação do itinerário humano em Francisco, porém, vem ainda mais admiravelmente revelada a um outro frade de vida louvável, suspenso em oração, naquela noite e naquela hora. Apareceu-lhe o glorioso pai, vestido com uma dalmática purpúrea, acompanhado por uma multidão de pessoas. Muitos, que saíam dessa multidão, disseram ao frade: "Irmão, esse aí não é Cristo?" Ele respondia: "É ele mesmo". Mas outros também perguntavam: "Mas, não é São Francisco?" E o frade, do mesmo modo respondia que era ele mesmo. E, de fato, tanto para o frade como para todos aqueles que o acompanhavam, parecia que Cristo e São Francisco eram uma só pessoa. Os que sabem entender bem não vão achar temerária essa afirmação, porque aquele que adere a Deus faz-se um só espírito com ele, e o próprio Deus será tudo em todos no futuro (2C 219).

Enfim, Jesus Cristo, Jesus de Nazaré, o filho de uma mulher, que recusou o caminho das falsas glórias do mundo proposto pelo tentador no deserto para seguir apaixonadamente o caminho estreito e apertado da cruz da finitude, da fraqueza e da fragilidade humana, tendo de crescer cada dia em sabedoria, graça e santidade diante de Deus e dos homens (Cf. Lc 2,52), é não apenas o exegeta de Deus (VD 90), mas também o verdadeiro e único exegeta do próprio homem. E dentre os homens, depois da Virgem Maria, quem mais de perto fez dessa Paixão de Cristo sua paixão, seu caminho e o sentido pleno de nossa vida foi seu servo Francisco de Assis, o mais humano de todos os santos e o mais santo de todos os homens, eleito como um dos dez homens mais significativos do último milênio, o homem universal, de trânsito livre e bem aceito por todos, ateus ou religiosos, pobres ou ricos, católicos ou luteranos, espíritas, budistas, sábios ou gente simples. Um verdadeiro mestre do caminho humano inaugurado por Cristo.

Em louvor de Cristo, o verdadeiro e novo Adão. Amém!

Lorena na Família Franciscana RS

Paz e bem!


Lorena, nossa Mestra de Formação,
foi eleita para a Direção da
Família Franciscana do Brasil/Rio Grande do Sul.

Confiram a notícia:

Assembléia Regional Eletiva da FFBrs 2011

No dia 12 de setembro de 2011, no Centro de Espiritualidade Franciscana, na cidade de Porto Alegre/RS, realizou-se a Assembleia Regional Eletiva da FFB/RS. A mesma contou com a participação de Frei João In´caio Muller, provincial dos OFM como o celebrante e com Frei Faustino Palludo OFM Cap como assessor do encontro, refletindo sobre Santa Clara de Assis e de hoje- Caminho de unidade. Em seguida, os Serviços da FFB/RS puderam fazer os seus relatos de como procederam a caminhada de 2009 a 2011. A Coordenação, na pessoa de Irmã Rosália Sehnem, apresentou o relatório das atividades desenvolvidas pela Equipe. Bem como foram informados os Cursos que já estão sendo encaminhados para 2012 como o de Franciscanismo que acontece no mês de janeiro em Daltro Filho/Imigrante. A Assembleia agradeceu a dedicação e comprometimento da Equipe de Coordenação pelo serviço prestado. A pós a eleição conduzida por Freiu Zé Valdir Heinen OFM, ficou assim composta a nova Coordenação do Regional Sul: Irmã Rosemaria Jaschke FBernardiana como Presidente e demais componentes da Equipe: Irmã Rosália Sehnem, FPCC, Ir. Lourdes Mantovani CIFA, Frei Eduardo Pazinatto OFMCap, Irmã Izabel Teixeira OFS e Irmã Lorena Prodorutti OFS. A Assembleia foi agraciada com a presneça de Irmã Renata Franciscana de Dillingen pelo Nacional. Desejamos todas as bênçãos de Francisco e Clara a nova Equipe.