sexta-feira, 22 de maio de 2015

Pentecostes: Sopro

Frei Dorvalino Fassini, OFM

PENTECOSTES (Jo 20,19-23)
O ESPÍRITO DO SENHOR ENCHEU O UNIVERSO INTEIRO (Sb 1,7)
Jesus soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’.

Introdução

Antes de um fato, Pentecostes é a consumação e a culminância do mistério da Cruz que, por sua vez, é a consumação, a culminância de uma grande História cujo coração é o desejo, a paixão de Deus de conhecer, viver e comungar nosso humano. Como processo de amor essa História é longa e recheada de tentativas e insinuações chamadas de “visitas”, “descidas”, “vindas”, “sopros”, inspirações ou “pousos” do Espírito de Deus, o Espírito Santo.

1 Sopro Divino

Ao iniciar falando que essa última Vinda acontece em forma de sopro e na tarde do mesmo dia que era o primeiro da semana... o evangelista João tem a clara intenção de dizer que estamos diante de uma nova criação. Nova porque se contrapõe à velha iniciada com Adão. Se lá Deus soprou sobre o barro do qual nasceu o homem, agora o sopro foi sobre o homem que se torna divino.

O simbolismo do sopro, ar ou vento é muito rico! Sempre aponta para o princípio vital do homem. Sem ar o homem não vive. Quando deixa de respirar, morre. O mesmo vale para o homem espiritual: sem o sopro de Deus – o Espírito Santo - o homem é apenas filho do homem, jamais filho de Deus, comuugante da vida divina.

2 Último sopro, última Vinda

Na verdade, a plenitude de todas as vindas ou sopros de Deus deu-se na Cruz. Aquele momento de doação total, absoluta e radical, que Jesus faz de si mesmo, de toda a sua vida ao Pai, em favor dos homens, irrompeu universo afora num grande Sopro ou vento divino.

Jesus é a boca pela qual o sopro definitivo do Pai, em forma de vento impetuoso, de um novo ar que, a partir da Encarnação e da Cruz, começa a invadir tudo, criando um novo Mundo, uma nova Terra e um novo Céu! Até os mortos ressuscitam! Símbolo desse Sopro são os braços abertos de Cristo na Cruz que, em nome do Pai, vão abraçando todos os homens e todas as criaturas. O último suspiro de Cristo é o término, o fim de todas as inspirações ou sopros de Deus. Por isso, esperar ou querer outro Sopro seria esquecer e ofender tudo o que Deus já realizou em definitivo.

3 50 dias depois

O que se celebra nesse dia (O 50º dia da Páscoa) é a manifestação pública e solene desse mistério. Ou melhor, depois de cinquenta dias de padecimento, angústia, meditação, reflexão e oração, os discípulos, orientados pela nova Mãe, Maria, tiveram a mente invadida pelos ares benéficos daquele sopro penetrante e transformador da Cruz. Assim, Cruz, em vez de derrota, vergonha, morte começa a ser compreendida como o princípio, a introdução de um novo hálito, um novo ar ou espírito no mundo, no homem, inaugurando, assim um novo Céu e uma nova Terra. O  DO SEESPÍRITONHOR ENCHEU O UNIVERSO INTEIRO!

Como é grande, generoso o ar que nos rodeia e respiramos! Nunca se cansa de servir a todos, sem distinção, sem medida. E no entanto, ninguém o vê, nota ou percebe. Se assim é o ar da nossa atmosfera, o que dizer do Ar, do Espírito que é Deus.

Por isso, São Paulo exclamava exultante de júbilo: “Não sabeis que sois o templo de Deus e que o ESPÍRITO SANTO habita em vós” (1Cor 316); “Não sabeis que vosso corpo é o templo do ES que habita em vós...” (1Cor, 6,19) e que “nós por nós mesmos nem somos capazes de rezar, de fazer o bem, nem mesmo de dizer “maldito seja Jesus” (1 Cor 12,3)?

Hoje, uma das mais recentes e belas manifestações do Espírito Santo é o Vaticano II- o novo Pentecostes - convocado pelo Papa João XXIII, o Santo da docilidade ao Espírito. Por isso o Papa Francisco, concluindo sua Exortação Apostólica EG, nos convoca para que sejamos evangelizadores com Espírito, pois do contrário seremos evangelizadores sem alma (EG 259 ss).

Conclusão

Sopro, muitas vezes é traduzido por inspiração. Inspiração significa, literalmente, soprar para dentro, respiração boca à boca. Pentecostes é para dizer que Deus soprou para dentro de cada um de nós, boca a boca, o ar, o hálito de sua própria Pessoa. E assim, a partir de então, o meu sopro vital em vez de seguir seu fluxo segue o fluxo, o ritmo da respiração de Deus: filhos queridos do Pai do Céu.

Como, pois, aprender a viver ou melhor a respirar desse Ar em tudo o que fazemos ou vivemos? Como, também, em tudo o que fazemos ou vivemos expirar e transpirar esse Ar? Eis nossa vocação e missão, depois que Cristo subiu ao Céu e nos enviou dom Pai seu Espírito.

Por isso, São Francisco dizia que o verdadeiro Ministro geral da Ordem é o Espírito Santo e que todos os Capítulos gerais deviam ser feitos na Festa de Pentecostes. E que nós devemos estar sempre atentos ao Espírito do Senhor e seu santo modo de operar.

A rosa é sem por que
Floresce por florescer
Não olha para si mesma
Não pergunta se alguém a vê.

Silesius

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