domingo, 12 de abril de 2015

Tomé e o Domingo da Misericórdia

2° DOMINGO DA PÁSCOA
Domingo da  Misericórdia  (Jo 20,19-31)
“Põe o teu dedo nas minhas chagas, Tomé e não sejas incrédulo, mas fiel”

Frei Dorvalino Fassini, OFM

O Tempo da Páscoa – uma Festa de 50 dias ou sete semanas – tem como objetivo aprofundar-nos cada vez mais no mistério maior de nossa vida, inaugurado por Jesus Cristo no Presépio e consumado na Cruz. Hoje, através de Tomé, somos convidados a fazer um ato de fé nas chagas salvadoras de Jesus e assim curar-nos de todas as nossas chagas. 

Mistério, aqui, é mais que uma verdade, conceito ou doutrina. É o próprio Deus que se revela na Pessoa de seu Filho que vem ao nosso encontro, principalmente em sua Cruz e Ressurreição. Por isso, diz o Papa Francisco: no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (EG 7). Esse é o mistério de todos os mistérios. A maravilha... a grande Alegria que alegra e salva todos os homens.

Infelizmente, por vivermos mais na inflação das palavras, das doutrinas e teologias do que no vigor da fé essa Boa Nova tão simples, clara, concreta e profunda não diz quase mais nada ou muito pouco. Não nos leva para a gratuidade da doçura do encontro ou do reencontro (EG 3) com JC crucificado, o mais belo dos filhos dos homens. É como alguém que pega seu carro para passear. Mas, em vez de olhar e saborear a beleza da paisagem fica apenas olhando para o carro e para a estrada.  

Precisamos ser como santo Tomé: querer tocar nas chagas do Crucificado. 

Nós Franciscanos temos em nosso Seráfico pai exemplos maravilhosos. Foi tocando o leproso que teve a graça da conversão; foi tocando um leproso rebelde que conseguiu convertê-lo por dentro e por fora. Mas, para podermos entrar na graça curadora das nossas chagas é preciso, como ele, que imploremos a misericórdia do Senhor: Certo dia, não aguentando mais sua miséria, começou a implorar com maior fervor a misericórdia do Senhor... ( cf. LTC 13,1). 

Tocar não é só um ato externo, mas uma experiência de enamoramento, afeição e com-paixão e identificação (cf. como nossos fieis simples gostam de tocar nas imagens, no papa). 

Ora, o que são as chagas de Cristo senão sinais da máxima experiência do amor, da fé, na bondade, na misericórdia, na compaixão de Deus para conosco. Com sua vinda ao mundo, com sua morte e ressurreição, Cristo introduz na história um novo princípio de ser homem, de ser gente: o princípio, a regra da compaixão, da misericórdia. 

O tempo da Páscoa, isto é, o tempo que vai da Sexta feira da Paixão até a consumação dos séculos, é para apender a tocar com misericórdia nossas (minhas e dos outros) chagas. Chagas morais e espirituais, chagas pessoais e sociais, particulares e comunitárias.

Dentro desse mistério a sorte e a essência do homem não é nem desenvolvimento, nem santidade e nem mesmo felicidade, mas poder amar do jeito como o Pai nos ama; é amar como Cristo amou, num amor que persevera de modo alegre na graça de poder doar-se com toda confiança e dedicação Àquele que o abandonou. 

Eis a Boa Nova, a Alegria do Evangelho. O novo sentido do homem! 

Só nos resta fazer como Tomé: ajoelhar-nos diante desse Mistério e proclamar como ele: “Meu Senhor e meu Deus!”

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