(A propósito da Evangelii Gaudium do Papa
Francisco)
Frei Dorvalino Fassini, OFM
Primeiramente, vê-se
aumentando cada vez mais o número de manifestações acerca da importância da
espiritualidade, do “além” ou “transcendente”. Enfim, o homem está cansando de
seus novos ídolos como status, consumo, riquezas, fama, “caridades”, etc.
O segundo, como
outrora Francisco, com a “Perfeita
Alegria”, hoje também nosso Papa elege a Alegria do Evangelho como princípio da
Vida e de toda Evangelização da Igreja, convocando-nos para que assumamos o início do ser cristão não como uma decisão
ética ou uma grande idéia, mas como o encontro com um acontecimento, com uma
Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (EG,
7).
Isso significa que
Espiritualidade, pelo menos para nós, cristãos, não é outra coisa senão Jesus Cristo. Ele, com sua Paixão
pelo Pai e pelo homem, vem ao nosso encontro para ser nossa Alegria e nosso caminho de retorno para
o Paraíso perdido (Cf.
Carta enc. Deus charitas est,
25/12/2005, 1 e EG 7). Nesse sentido, em vez da racional
frieza da espiritualidade, até mesmo do cristianismo ou catolicismo, etc. do que
mais se precisa é crescer no ardente
desejo do Pobre Crucificado (Sta
Clara: 1CCL, 12).
Daí a insistente
exortação do atual Papa: que façamos de Jesus Cristo e seu Evangelho a Alegria que deve encher de fato
nosso coração e nossa vida inteira (EG 1); que sejamos evangelizadores com Espírito, isto é,
pessoas que buscam ardentemente ter o
encontro pessoal com o amor de Jesus (Evangelii Gaudium, 264).
O perigo de toda
espiritualidade (cristianismo, catolicismo, franciscanismo e demais “ismos”) é
sua dimensão científica. Acontece que ciência é exercício e merecimento do poder
do homem, em especial de sua razão, inimigo número um da alegria e da gratuidade
do encontro. Era nesse sentido que Francisco temia os estudos na Ordem
(Cf.
2C 195,
Atos, 18). Mas, estimava, sim, ao contrário, que os frades,
em vez de saberes, espiritualidades, ciências ou doutrinas procurassem sempre ter Jesus consigo (2C 195). De
Si mesmo Cristo diz que Ele e o Pai eram
UM só (Jô
10,30). De Francisco dizem as Fontes que levava sempre Jesus no coração, Jesus na
boca, Jesus nos ouvidos, Jesus nos olhos, Jesus nas mãos, Jesus em todos os
outros membros (1C 115).
Hoje, todas as
espiritualidades ou doutrinas cristãs estão em crise. Chegaram ao seu cume,
esgotaram todas as suas possibilidades. Deram o que podiam e deviam dar. E não
foi pouca coisa. Basta contemplar a “grandeza” (!?) da Cristandade. Seu tempo,
porém, terminou. Um novo tempo está nascendo e com ele a necessidade de se
voltar às Fontes, ao primeiro Amor. (Cf. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da
Igreja no Brasil, 2011-2015, 19). Por isso, do que mais
se precisa é que, a exemplo dos Apóstolos, Francisco e Clara, sejamos,
seguidores, companheiros, imitadores de Jesus Cristo pobre e crucificado,
capazes de, como Ele, beber da fonte do Amor maior que é o Pai (Cf. EG
7); capazes de, como e com Ele, amar os filhos queridos do
Pai, dentro, fora ou para além de todos os conceitos ou pré-conceitos, dentro,
fora ou para além de todos os “ismos” (Catolicismo, cristianismo,
franciscanismo, etc.), pura e simplesmente assim como se encontram, alegrando-nos, por estar, principalmente,
entre pessoas vis e desprezadas, pobres e débeis, enfermos, leprosos e mendigos
de rua (RNB
9,2).
Paz e Bem!
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