quinta-feira, 21 de junho de 2012

A propósito de Crucifixos e Santo Antônio

A decisão do TJ do RS, ordenando a retirada dos Crucifixos dos prédios da Justiça do estado, suscitou inúmeras, e por vezes acaloradas, discussões e pronunciamentos a favor e contra. 

Entre os últimos encontramos o magistral artigo de Paulo Brossard, segundo o qual a presença do Crucifixo nos tribunais de justiça é para recordar aos juízes o grande Injustiçado e que o Crucifixo está nos tribunais não porque Jesus fosse uma divindade, mas porque foi vítima da maior das falsidades de justiça pervertida. E mais ainda, apoiando-se em Rui Barbosa, escreve o nobre jurista que o Crucifixo está aí para recordar que Pilatos ficou na história como o protótipo do juiz covarde. É deste modo que, há mais de cem anos, Rui Barbosa concluiu seu artigo: “como quer te chames, prevaricação judiciária, não escaparás ao ferrete de Pilatos! O bom ladrão salvou-se. Mas não há salvação para o juiz covarde”. Essas as considerações transparentes e cristalinas de um magistrado da mais alta competência do Brasil.

Nós franciscanos, porém, poderíamos argumentar de modo bem mais positivo e evangélico acerca desse assunto. Pois, a exemplo do Presépio, da Eucaristia, os crucifixos sempre inspiraram um profundo amor, respeito e veneração pelo humano, principalmente pelo homem desvalido, pobre e fragilizado.

Olhando para um Crucifixo não há como não envolver-nos em pensamentos e sentimentos de profunda estima pela dignidade da pessoa humana nele representada. Assim, todos, crentes ou não, podemos encontrar nele um significado que enriquece a vida do homem. Ou seja, olhar para um Crucifixo ou deixar-se olhar por ele não ofende, não prejudica ninguém. Só faz bem.

A esse respeito vale a pena ouvir nosso Doutor evangélico, Santo Antônio que, para explicar o papel do Crucifixo, serve-se da analogia do espelho. Todos nós temos em nosso quarto ou sala o espelho diante do qual nos miramos para ver se estamos devida, digna e corretamente vestidos e arrumados, enfim, se estamos bem a jeito com nosso estado ou gênero de vida. Pois, então, proclama o denodado Doutor evangélico, Cristo, que é a tua vida, está suspenso diante de ti para que tu te contemples na cruz como num espelho. Aí poderás conhecer quão mortais são tuas feridas, que nenhuma medicina tem poder de sarar, senão aquela que brota do sangue do Filho de Deus. Se olhares bem, poderás dar-te conta de quão grande são tua dignidade e teu valor... Em nenhum outro lugar o homem pode melhor dar-se conta do quanto ele vale do que olhando-se no espelho da Cruz.

Comentando essa passagem diz nosso Papa, Bento XVI: Meditando essas palavras podemos compreender melhor a importância da imagem do Crucifixo para a nossa cultura, para o nosso humanismo nascido da fé cristã. Justamente olhando para o Crucifixo vemos, como diz Santo Antônio, quão grande é a dignidade humana e o valor do homem. Em nenhum outro ponto se pode compreender quanto valha o homem para que Deus mesmo nos faça tão importantes, nos veja tão importantes de sermos por Ele dignos de seu sofrimento. Assim, toda a dignidade humana aparece no espelho do Crucifixo e o olhar para Ele será sempre fonte de reconhecimento da dignidade humana. (Benedetto XVI e San Francesco, Libreria Editrice Vaticana, p. 210).

Finalmente, pode-se e deve-se, ainda, acrescentar que nesse espelho estamos frente a frente, cara a cara, olho no olho, com a mais alta, primeira e última vocação do homem: o máximo de empenho, até a morte e morte de Cruz, para entrar em comungação com nossa origem, representada pela haste vertical e em comungação com os outros homens, nossos irmãos, representada pela haste horizontal.

Por tudo e por todos, portanto, é uma pena que se tenha decretado sua retirada de um tão significativo, nobre e universal símbolo de todos os homens de todos os tempos. Mais uma vez os homens não sabem o que fazem!

Em louvor de Cristo Crucificado. Amém.

Frei Dorvalino Fassini, OFM

Ilustração: Tabernacle and painting of Saint Anthony of Padova in Church Holy Egyd at Tigring, Moosburg, Klagenfurt-Land, Carinthia, Austria [picture] / Johann Jaritz. November 1st, 2010. Disponível em http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Moosburg_Tigring_Pfarrkirche_Heiliger_Egyd_Antoniuskapelle_Altar_01112010_35.jpg acesso em 21 jun. 2012.



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