sábado, 28 de janeiro de 2012

Forum Social Temático 2012: O franciscano vai contribuir com o quê?


Frei Dorvalino Fassini, OFM

Um dos mais significativos sinais do nosso tempo é, sem dúvida, a especialização. Quem quiser ser “útil” tem de tornar-se competente numa profissão, vocação ou missão. Para nós, cristãos, isso não é nenhuma novidade como ensina o Apóstolo Paulo quando, através da analogia do corpo, fala da importância e do dever de cada um contribuir para o bem comum através do cultivo de seu dom ou carisma (Cf. Rm 12).

Qual, então, a especialidade, o dom ou carisma próprio que nós franciscanos devemos cultivar a fim de sermos devidamente “úteis” aos homens de hoje? Ora, não pode ser nenhum outro senão e tão só o de sermos cada vez mais e melhores franciscanos. Aos outros outros serviços, a nós o nosso.

Mas, o que é ser franciscano? Com qual mística ou espiritualidade somos chamados a servir o homem de hoje e de sempre?

Comecemos pelo que há de mais simples e transparente em Francisco: a busca do verdadeiro humano, revelado por Cristo, pobre e crucificado, o protótipo de todo homem que vem a este mundo e que vige escondido no íntimo mais íntimo de cada homem, principalmente nos mais fragilizados como os leprosos, doentes, as crianças, os idosos e marginalizados.

O divino do humano e o humano do divino, porém, não nos são dados como fatos ou ocorrências, são, antes, desafio, tarefa, vocação e missão. Por isso, o próprio Senhor quis perfazer esse percursocrescendo aos poucos em sabedoria, graça e idade (LC 2,52); percurso que só se consuma ao beber a última gota do cálice da busca do “seu”, “nosso” humano. Só então, Ele se mereceu a glória de, como homem, ser verdadeiramente filho de Deus (Mc 15,39). Eis todo o nosso desafio: crer fiel e devotamente que o divino do homem já está no âmago mais profundo de seu humano, esperando ser descoberto, re-velado. Francisco fez-se mestre tão brilhante nessa busca que não apenas se mereceu o título de “homem universal”, mas também um trânsito livre e bem aceito entre todos os homens, sem distinção de raça cor ou religião e escolhido como um dos mais importantes homens do último milênio. Por isso, também, quando hoje os Papas precisam de um local para algum encontro inter-religioso mundial não escolhem Roma, mas Assis. Francisco, Assis, passaram a ser símbolos de uma nova humanidade, isenta de fronteiras e de todo tipo de discriminação.

O entusiasmo por esse ideal ou espiritualidade, no fim da Idade Média, foi de tal abrangência e profundidade que veio a se constituir em verdadeira cruzada de retorno ao humano paradisíaco expresso e concretizado pela “nova” forma de vida vivida por Francisco, Clara, e toda aquela primeira geração de frades, clarissas e seculares como os reis Luis da França, Isabel da Hungria, a jovem santa Rosa de Viterbo, o sapateiro Novelono de Faenza, o lavrador Luchésio de Poggisbonsi, e tantos outros.

Inaugura-se, então, uma verdadeira avalanche a precipitar-se história abaixo, provocando transformações radicais nos parâmetros de encontro e desencontro dos homens consigo mesmos, com Deus e com os outros homens das gerações futuras (Cf. Fontes Franciscanas, Mensageiro de Santo Antônio, p. 9). Disso nos testemunham os famosos “I Fioretti” de São Francisco e de seus Companheiros, bem como os Escritos de São Francisco e demais textos das nossas conhecidas “Fontes Franciscanas”.

Por isso, assim como a Igreja, hoje, espera e exorta para que a Palavra de Deus volte a ser o coração e a fonte da vida e de toda a atividade eclesial (VD 1), também nós não temos outro caminho senão esse: de novo, como os primeiros seguidores de Francisco, logo após sua morte, fazer com que seus Escritos e as assim chamadas Fontes Franciscanas, também conhecidas como a “Bíblia Franciscana”, venham a se constituir não apenas num material de referência ou consulta, mas, de fato, depois da Sagrada Escritura, na primeira e única fonte de água viva para nossa Vida e Missão. Pois, como o próprio Francisco diz, suas cartas e escritos são palavras odoríferas do próprio Senhor (2CF 2). Por isso, também, insiste para que todos as recebam benignamente, entendam e façam cópias para os outros, pois, se nelas perseverarem até o fim, terão a bênção do Pai, o Filho e o Espírito Santo. Amém (Cf. idem, 88).

Foto de Circuito Fora do Eixo

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