sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Natal, de novo?

Escrever, de novo, sobre o Natal? Por acaso, há algo de novo, que ainda não foi dito escrito ou falado acerca desta Solenidade? Mas, também, por outro lado, por que querer coisas novas se as antigas é que são as melhores e mais verdadeiras? Ou melhor, novo não é aquilo ou aquele que nunca envelhece? Não é isso que afirma o Evangelho quando diz que o vinho velho é sempre o melhor (Lc 5,39)? Aliás, o próprio Evangelho, como Boa-Nova, não é, por acaso, concretização do antigo (eterno) desejo de Deus de fazer-se homem, começando por ser Criança, Deus-Menino?

Interessante é que o Latim chama menino de “infans”, isto é: aquele que não fala, não pensa, não quer, não pode, não sabe, não faz. Natal é, pois, a Festa do Deus que vem a nós como Aquele que não fala, não pensa, não quer, não pode, não sabe e não faz.

Natal, Deus-Menino, porém, não foi e nem é apenas um fato, acontecimento ou ocorrência. Em verdade, Jesus nunca deixou de ser Menino. Sempre foi um “infans”. Não só e muito mais! Veio inaugurar um novo Reino: O Reino dos homens-meninos, crianças: Se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, não entrareis no reino dos céus (Mt 18,1-5).

Ser “como”, aqui é igual a “de verdade”, “não fingido” ou “não de mentirinha”. Mas, o que é ser criança de verdade, não de mentirinha? É ser pra valer, no empenho e busca da mesma identidade, do mesmo modo de ser da criança. Mas, para isso é preciso virar, ser inteiramente outro, converter-se, renascer. Em outras palavras, celebrar o Natal, como mistério do Deus-Menino significa entrar e viver na dinâmica da criança. Por isso, disse também, o Senhor, na mesma ocasião, que, para ser criança, isto é, para converter-se para o novo Homem e assim ser o maior no Reino dos céus, é preciso humilhar-se como esta criança.

Isso significa que só é verdadeiramente adulto, grande, verdadeiramente homem, aquele que se tornar verdadeiramente “infans”. Mas, por quê? Por que o modo de ser da criança é ser todo doação plena, simples, cheia de generosidade humilde e natural da vida nascente. É a inocência da jovialidade do ser; é estar aí, aberto e contido na doação simples de si à doação generosa da vida, presente e borbulhante em cada acontecimento, criatura ou pessoa. Quem se empenha na busca deste modo de ser do pequenino, diz Jesus, é o maior no Reino dos céus.

O Natal não é, pois, sempre de novo, convocação deste e para este mistério? Mistério que nos pede para estar atentos aos acenos da Boa e antiga Nova do pequenino, da humildade da criança em cada criatura porque aí se encontra a semente da grandeza do Pai que nos amou por primeiro? Grandeza que aparece não como poder de dominação, mas sim como pobreza e pequenez da vida recém-nascida do presépio?

Criança, menino não é apenas uma etapa da vida, mas um modo de ser, um espírito que todo homem tem e deve cultivar. É o estado anterior ao pecado que Cristo veio re-criar e que agora está em cada um de nós de modo embrionário, como uma terra prometida, um tesouro escondido, o paraíso perdido à espera de trabalhadores e conquistadores.

Que no fundo de nossa humanidade mais íntima re-nasça, pois e sempre de novo, o menino, o Reino da inocência sem o qual não poderemos jamais entrar no reino dos céus! Pois, não diz o Senhor: Em verdade vos digo, se não vos converterdes e não vos fizerdes como crianças, não entrareis no reino dos céus(Mt 18, 1-5)1? Eis porque sempre é bom, importante e necessário falar, escrever, de novo acerca do Natal e seu significado.

1 Cf. Fr. Hermógenes Harada, Coisas, velhas e novas, IFAN, 2006 p. 376.

[Frei Dorvalino Fassini, OFM]

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